Outra história sobre Angola, 1969…
Na época das chuvas, em Zala, a Norte de Luanda, as estradas ficavam praticamente intransitáveis. O quartel onde estávamos ficava inacessível às colunas de abastecimento que, mensalmente, traziam, desde Luanda, o que fazia falta aos cerca de 400 soldados. Passávamos algumas semanas em que o abastecimento era feito por aviões, que lançavam os caixotes com comida e outros bens necessários. Por vezes, o vento estava a favor do “inimigo”, presenteando-o com a carga dos pára-quedas desviados do alvo…Passávamos então dias e dias a comer salchichas com arroz!
Lembro-me duma altura em que, para nos deslocarmos 40 kms, até ao quartel mais próximo, situado na fazenda Madureira, demorámos uma semana, encontrando algumas vezes no lugar da picada, um caudaloso rio que fazia desaparecer grandes troços do caminho, transformado num pântano...
Lembro-me duma altura em que, para nos deslocarmos 40 kms, até ao quartel mais próximo, situado na fazenda Madureira, demorámos uma semana, encontrando algumas vezes no lugar da picada, um caudaloso rio que fazia desaparecer grandes troços do caminho, transformado num pântano...
Nesses pântanos era frequente os veículos mais pesados ficarem atascados até aos eixos, o que significava um ou dois dias de atraso, gastos a salvar o viatura do atoleiro. Apenas esses veículos milagrosos chamados “Unimog” conseguiam passar aí, recorrendo ao guincho montado na frente. O cabo era preso a uma árvore na direcção do nosso destino e o guincho arrastava esses “burros do mato” para terreno seco.
Aliás, eu inventei um sistema de reboque utilizando dois ou três unimogues com guincho e algumas roldanas, conseguindo, ao colocar os cabos a puxar de várias direcções e alturas, retirar pesados camiões desses atoleiros. Lembro-me dum camião, marca “Magirus", creio, que fora dado como perdido, depois de as tropas de Engenharia munidas de bulldozers e gruas, terem desistido de o retirar.
Recorrendo aos guinchos dos “burros do mato”, conseguiu-se endireitar o camião e, depois, arrastá-lo para terreno firme. Claro que a carga, constando de, entre outras preciosidades, muitas garrafas de whisky, desapareceu misteriosamente. Consta dos relatórios que caiu nas mãos do “inimigo”, mas cá por mim, penso que o destino da carga foi outro, pois, também misteriosamente, muitos soldados, no resto do caminho, cantavam alegremente, tais eram as bebedeiras…
Quem também ficou muito contente foi o condutor e dono do camião, só faltou beijar-me os pés, agradecido…