----- VIVA O I DE MAIO, SEMPRE! ------
Estive na última grande manifestação convocada pela internet,
em 2011. No Largo do Regedor, tirei algumas fotografias e não pude deixar de
recordar outras manifestações de antes de 1974, em particular o Iº de Maio de
1961…
Fez 57 anos em 1 de Maio de 2011, que o camião da tinta azul
entra no Rossio vindo daqui... Eu estava lá!!!!
Estavam proibidas manifestações. O Iº de Maio é o dia do
Trabalhador e o pessoal concentrava-se no Rossio. Nos 1º de Maio e nos fins de ano
havia sempre batatada com a polícia de choque e com a Guarda Republicana a
cavalo.
Desde miúdo que acompanhava o meu pai nessas andanças.
Acima, um desenho que fiz, na altura, ilustrando uma manifestação a que assisti, com 12 ou
13 anos.
Mas naquele ano, a PSP utilizou o carro com tinta azul, as
pessoas ficavam com a roupa marcada...!
Era a primeira vez que a polícia utilizava um carro
anti-motim, coisa nunca vista nos anteriores primeiros de Maio, onde apenas
usavam mangueiras com agulheta e os cavalos da GNR.
O carro anti-motim veio dos Restauradores, pelo Largo do
Regedor e entra no Rossio a esguichar. O pessoal que enchia o passeio do lado
do Nicola foi surpreendido pelo jacto de tinta azul...
Eu estava ao pé da Tendinha do Rossio e vi o povo no passeio do
Nicola a recuar em pânico para dentro das lojas, num movimento de onda depois
de rebentar na praia...! Ouvia-se o tilintar dos vidros partidos…
Fugi pela rua dos Sapateiros, mas pela primeira vez, a
polícia tinha um plano organizado para aquele dia: Desimpedido o Rossio, eles
disparavam nas ruas para onde as pessoas se retiraram, obrigando o pessoal e
refugiar-se nas entradas dos prédios. Então, brigadas da polícia expulsavam as
pessoas das entradas, à coronhada…
Agora, o pessoal recorre à internet para marcar manifestações e elas decorrem pacificamente, como se fosse um festival. A repressão actual apurou-se, as forças que defendem o Capital têm meios muito mais eficazes para impedir que essas manifestações causem qualquer dano ao Poder. Fervem o pessoal lentamente em banho-maria, até fica confortável e assim nos vão cozendo no caldeirão do roubo e exploração.
Agora, cada vez mais o pessoal fica em casa, grandes
manifestações como essa última rareiam.
Há quem censure o povo pela sua cada vez, maior, passividade.
Os que criticam também são povo, serão inteligentes e valentes, mas censuram os
outros pela sua passividade. Chegam a dizer que “são uma carneirada, umas
bestas estúpidas”…
Mas eu tenho uma explicação para essa “estupidez”. Eu digo
que essa passividade é até um sinal da inteligência do nosso povo: Consciente
ou inconscientemente, as pessoas começam a perceber que somos controlados por
bandidos organizados e armados ao serviço do grande capital financeiro nacional
e internacional. E para confrontar esse poder ainda há muito que fazer!
A democracia não se ganha de mão beijada. Talvez essa seja a
melhor lição que os portugueses podem tirar do “25 de Abril”…
“As fotos do amigo Álvaro
estão espectaculares, é de artista”, comentou um amigo…
Aqui, o maior artista foi e será o Povo, embora não o
saiba... Ainda!