sábado, dezembro 06, 2008

Leitura Em Diagonal


Pois é, os textos do meu blog são lidos em diagonal… Isto, depreendo eu de certos comentários, aqui no blog ou de amigos que comentam em directo!... Vários confessam mesmo: “li assim em diagonal” - fazendo um trejeito como se a desculparem-se…


Mas não faz mal, afinal é mesmo assim que na NET, se lê a maior parte do que pesquisamos, a informação é tanta que não poderia ser de outra maneira. É assim também que muitas vezes leio os blogs que visito…

E recebi críticas de que o meu blog é massudo, os textos são muito compridos, têm poucas ilustrações, vídeos, animações…

Mas para mim, isto começou por ser um arquivo dos meus escritos e agora é um diário de reflexões. Não escrevo para deliciar os leitores, para ganhar audiências. Eu escrevo para mim! Lendo-me depois, consigo reflectir melhor sobre o que pensei, e analisar melhor o que escrevi.

Mais tarde, descobri que aparece gente a ler e a criticar. E que essas críticas são, dum modo geral, muito úteis e fazem avançar as minhas reflexões. Refiro-me, claro, às críticas contestantes, questionando. Essas críticas às minhas opiniões têm-me ajudado a esclarecê-las, ajustá-las, aperfeiçoa-las, corrigi-las e, até, a abandona-las. Em qualquer dos casos, ajudaram-me a maturar e evoluir. Portanto, descobri que quero ter esses leitores interventivos e contestatários. E, concerteza os outros, também.

As críticas elogiosas e corroborativas são simpáticas, sabem bem, mas pouco me ajudam nos raciocínios, são agradáveis porque me enchem o ego, mas mais nada, apenas sublinham o efeito “Feira das Vaidades”, conforme senti desde o momento da fundação do blog, dando-lhe esse título (vejam o primeiro texto que aqui coloquei, já lá vão dois anos!)...

Portanto, o meu blog vai continuar assim, e os leitores, talvez a maioria, a continuar a lê-lo em diagonal. O que não deixa de ser bom…!

E para animar o blog, lá pus um desenho de minha autoria à cabeça…

segunda-feira, novembro 17, 2008

A VELHICE AO PODER

A VELHICE AO PODER!
Toda a criatura é necessária ao concerto do Universo. A minha mãe, 87 anos, lamenta-se, por vezes pergunta “que ando cá eu a fazer?” e eu quero dizer-lhe que ela me faz falta, talvez mais a mim que eu, a ela…

Também comenta que as pessoas deveriam ter sempre saúde, até à hora da morte!

Não! Aparentemente certo, há algo de mal contado nesta opinião. Quer dizer, eu, com 98 anos, estava muito bem a dançar numa discoteca e BUM, chegou a hora, morria!... Ná!

…Mas a ideia não era má de todo… Será?

O terror da morte faz os mais jovens virar a cara e acharem os velhos, horríveis, vendo neles o prenúncio da sua própria morte. Mas esta questão triste e feia terá talvez uma resposta alegre e linda…Será?

A minha geração é responsável pela libertação dos jovens. No final da II Guerra Mundial, um adolescente não passava dum bebé em crise de tamanho e borbulhas. A minha geração marchou ao som do rock e do pop, hinos musicais ao amor, à liberdade, à revolta. E os jovens jamais foram esses homúnculos de chapéu e gravata para que os adultos da época nos remetiam.

Hoje, poderemos dizer que essa batalha está ganha, embora, francamente, se esteja a passar para o extremo oposto, agora, parece que quem não for jovem é para abater, está cá a mais!

Pois estão muito enganados, e, mais uma vez, temos que pegar na bandeira e voltar à luta. A VELHICE É UM POSTO!

A VELHICE AO PODER!!!!

Mas vai ser preciso encarar a vida, toda ela, duma maneira totalmente diferente. Como uma jornada contínua de evolução, para a completa realização do Homem, como ser material e espiritual.

Neste mundo dual em que nos encontramos – onde cada fenómeno se desenvolve de acordo com uma luta interna entre dois aspectos contraditórios – podemos encontrar o número dois a reger tudo, os tempos também. Vou usar isso para calcular o tempo ideal de vida. Não o actual, mas aquele que é de facto necessário para a realização total do homem.

Aqui, entro num campo em que não sou especialista, vou fazer uma abordagem expedita e grosseira, médicos, biólogos, pediatras, educadores e demais especialistas nestas áreas, por favor, corrijam-me onde estiver errado!
Um segundo após o encontro do espermatozóide com o óvulo, este cria uma protecção que impede a entrada de outros espermatozóides; dois segundos depois, começa a sua subdivisão.
E de duplicação em duplicação, vamos vendo passar as fases da vida humana; ao ano de idade, começar a andar; aos dois, começar a falar; aos quatro anos, a definição da personalidade; aos oito, da vida social, a sexualidade potencial; aos dezasseis, a adolescência, a sexualidade efectiva; aos trinta e dois, um casamento maduro, filhos; aos sessenta e quatro, a visão sábia das coisas, aos cento e vinte e oito… Só partir desta idade, estará praticamente concluída a nossa vida, começam os festejos… De quê?

Reparem na alegria da criança e os adultos que a rodeiam, dando os primeiros passos! E quem não sorriu perante o orgulho dum(a) adolescente nas suas novas evidências corporais desta fase? E perante a felicidade dos bem-casados e pais babosos?
Então, porque se hão-de as pessoas entristecer com a 3ª idade? E porque não ansiar por ela, como a criança anseia ser igual ao irmão adolescente? E porque não o próprio preparar-se para a sua morte como uma noiva se prepara para o casamento? E porque não ver essa passagem como o coroamento glorioso de toda uma vida, completando-se? Não é isto de festejar?

Eu sei que agora, ninguém concorda comigo, ser velho é chato! Mas não vai ser sempre assim, virá um altura em que aquela questão colocada pela minha mãe pode ser cumprida. A evolução do conhecimento do homem vai permitir viver-se bem toda a vida, cada idade com as suas peculiaridades próprias, as suas vantagens e desvantagens, certamente o homem saberá encontrar uma resposta de adequação feliz e fisicamente saudável á sua idade. E, creio que isso terá que passar por uma mudança de mentalidade e por uma visão mais espiritual da vida!

Então, na tal discoteca das Docas, com mais de 128 anos, morrerei a dançar num transe xamânico!

VIVAAAAAAAAAAAAAAAAAAAA!!!!!

terça-feira, outubro 21, 2008

Platão era mesmo visionário! - 2


Os pressupostos do anterior "Platão era mesmo visionário!", sobre o que se deve manter e o que deve mudar para acabar com esta nossa democracia de opereta, servem agora para eu explicar a minha proposta alternativa.
Claro que o sistema que aqui apresento, aplicando os "sim" do tema anterior e eliminando os "não", nunca será aplicado em Portugal, pois, a sê-lo, acabaria à partida com a manutenção desta nossa classe dominante rasca, e nunca ninguém organiza eleições para as perder. Poderá deixar mudar as moscas, sim, mas o resto, tem que se manter...
Claro que o bombardeamento contínuo a que os portugueses têm sido submetidos sobre a excelência desta “democracia” e das “conquistas de Abril”, cria reflexos e preconceitos que dificultarão a compreensão imediata da minha proposta. Muito gostaria que essas dúvidas, críticas e oposições viessem ao de cima, seriam preciosas para melhorar a minha proposta, seja na sua estrutura, seja na sua exposição.
Cá vai então uma parte dela:
1. Para fundar um partido político apenas seria necessário definir: Nome do partido; seus corpos dirigentes; programa; local da sede; lista de candidatos às Assembleias, da República, Municipais e das Freguesias onde tal partido pretenda concorrer;
2. A filiação em partidos passaria a ser pública, ou seja, cada cidadão aderiria ao seu partido subscrevendo declaração de adesão, aceite pelos respectivos dirigentes; tal documento seria triplicado, ficando o original no Partido, uma cópia na posse do militante e outra, seria depositada na comissão eleitoral, onde poderia ser consultada por qualquer cidadão.
3. Deixariam de se realizar eleições para as Assembleias da República, Municipais e de Freguesia. Anualmente, os deputados seriam eleitos em função directamente proporcional ao número de militantes cujas declarações de adesão (a renovar regularmente) dessem entrada na comissão eleitoral.

Creio que este sistema teria vantagens:
· Surgiriam partidos de todas as maneiras e feitios de modo que ninguém poderia dizer que “nenhum partido lhe serve”;
· Cada pessoa passaria a ser responsável pela sua posição política e essa responsabilidade levaria a uma atitude mais séria perante a política;
· Acabaria o desperdício e a demagogia, o triste espectáculo das eleições; mas, sobretudo, deixaria de existir o poder das panelinhas e cúpulas dentro dos partidos, os dirigentes teriam que descer às bases, captar e educar os seus militantes, debatendo a política com eles e, em última análise, respeitando-os…

Que acham? Críticas bem-vindas, sobretudos as de oposição!

quinta-feira, maio 15, 2008

FURACÃO ML

Acabei de receber um comentário ao meu texto anterior sobre a minha guerra colonial.

Naturalmente o que escrevi inspirou o seu autor, ou autora, "FURACÃO ML" a escrever o seu próprio relato sobre outra guerra quiçá mais sangrenta, que encabeça com "Hipocrisia!".

Afinal, não se trata dum comentário ao meu texto mas um texto que melhor fica aqui, autónomo.
É o primeiro texto que aqui publico que não é da minha autoria ou de que sou tradutor.
Vou então colá-lo a seguir, depois de um mínimo de edição do original com o que, espero, o seu anónimo autor concordará.

E venham os comentários!


Hipocrisia! Que se passará nos últimos tempos ?

Lorosae - o País do Sol Nascente

Desde Abril (1999) que a situação no pais era caótica. Após o massacre de santa cruz - DILI 1991 - para além de esporádicos episódios de confrontos entre as milícias e as tropas governamentais a situação parecia minimamente estável mesmo depois de em Janeiro (1999) ter sido anunciado o projecto de independência.

Não se entendia bem quais eram as facções armadas e assistia-se esporadicamente a tiroteios dispersos atribuídos a guerrilheiros fortuitos.

O dia 4 de Setembro amanhece debaixo de um tiroteio cerrado, com morteirada a cair por todos os lados, não se percebendo quem eram os atiradores.

Mas que estavam lá, estavam... e em força.

O calor húmido abafadiço era irrespirável. Misturava-se o pó com o cheiro intenso da pólvora, do que parecia metal derretido, carne queimada, não tem descrição que traduza.

O pequeno grupo : Esta voluntária anónima, o Enf. Coimbra; a Enf. Adelaide; o Dr. Carlos e os espanhóis Jualsalben e Eulogio, refugiados atrás da parede de uma casa meio destruída em ERMERA aguardava uma pausa no tiroteio para atingir a viatura da UNAMET estacionada duas ruas a frente.

Não era fácil. O fogo das armas parecia partir de um ângulo de 150 graus, varrendo todo o espaço à nossa frente.

Era evidente o nervosismo dos nossos camaradas espanhóis - pressionavam para que estivéssemos atentos ao mais leve recrudescer do fogo para partirmos. estava um avião no AEROPORTO DE BAUCAU a espera para sermos evacuados mas partia a meio da tarde e tínhamos não sabíamos bem quantos quilómetros (400?) até ao aeroporto sem sabermos em que condições.


Não é fácil entrar na narrativa final.... ainda dói e doera para sempre...
No meio de toda a confusão, homens, mulheres e crianças fugindo para junto da nossa parede, murmurando em tétum não se sabe bem o que, talvez Rai-lacan (terra em chama) chorando, gemendo, alguns cheios de sangue, tornaram a situação ainda mais desesperante, caótica.

Narração na primeira pessoa

O CHEIRO A SANGUE EXISTE E INSUPORTAVEL JUNTO COM TODOS OS OUTROS CHEIROS JA DESCRITOS. MAIS RAPIDO QUE SE CONSEGUE CONTAR MAIS AFLITIVO QUE SENTIR UMA BOMBA PARA EXPLODIR JUNTO A NOS MAIS PARALIZANTE QUE UM GAS ALGUEM... NAO SEI...

MAS ALGUEM FALANDO TETUM EM TOM SUPLICANTE E CHOROSO PASSA-ME PARA OS BRACOS UM PEQUENO EMBRULHO
QUENTE HUMIDO MOLE ... ESTUPIDAMENTE AGARRO, SEGURO, PERTO CONTRA O MEU PEITO ESTARRECIDA, ESQUEÇO O TIROTEIO, ESQUEÇO O BENDITO ESPANHOL A GRITAR PARA CORRERMOS PORQUE DC 10 NAO ESPERA PARA ALÉM DO PREVISTO. ---- E OLHO O PEQUENO EMBRULHO

NÃO QUERO... NÃO POSSO... NÃO AGUENTO RELEMBRAR O QUE VI... ERA UM PEQUENO SER, UMA CRIANÇA PEQUENINA - 1 ANO,TALVEZ 2.
UNS OLHINHOS NEGROS MEIO MORTIÇOS, SUPLICANTES, OLHANDO-ME ESPANTADOS, MAS SERENOS, SEM MEDO, TALVEZ SÓ COM UMA PERGUNTA PORQUÊ??

Afastei o pano que o envolvia aconcheguei aquela pasta de sangue a mim, toquei a carinha com a minha face, a mãozinha pequenina e escura agarrou uma madeixa do meu cabelo no pescoço. Apertei bem a mim. Queria dar o meu calor, o meu sangue, não deixar fugir aquela vida Gritei... gritei... gritei com o frio e impessoal espanhol para que me levasse ao hospital de campanha. Estava obcecado pelo avião e gritava também para mim «deja-lo, deja-lo--- a una mujer... »A mãozinha descaiu do meu caracol de cabelo, o sangue estava pastoso mas não escorria e Aqueles olhinhos negros, parecendo molhados de lágrimas, tinham perdido para sempre a luz da existência. Estão gravados em mim para sempre, pela sua paz, pelo perdão que pareciam transmitir e pelo amor que parecia querer ainda dar-me juntamente com uma mensagem JA NAO VALE A PENA Adeus para sempre pequeno ser--- nem tenho a consolação de pensar na vida para além da morte para ter a expectativa de te voltar a ter nos meus braços. Então, sim, inteiro, feliz como tinhas o direito de ser; com o meu cabelo na tua mãozinha escura . Descobrir-te e saber se eras um menino ou uma menina. De ti só me ficou o teu olhar sereno. O bendito DC 10 lá estava ainda a nossa espera depois de uma viagem por estradas e picadas impossíveis, barricadas, postos de controle e ultrapassados todos os desafios. Uma viagem de regresso de quatro dias para esquecer, escalas técnicas, olhares curiosos e incómodos e finalmente o chegar a casa com a decepção da MISSAO NAO CUMPRIDA A TI PEQUENINO SER PROMETO QUE TAMBEM POR TI IREI SEM RESERVAS A QUALQUER LUGAR NO MUNDO ONDE POSSA ALIVIAR O MEU ESPIRITO DO DESGOSTO DE TE TER DEIXADO PARTIR NÃO VALEI A PENA!!!

terça-feira, abril 29, 2008

Outra história sobre Angola, 1969…


Na época das chuvas, em Zala, a Norte de Luanda, as estradas ficavam praticamente intransitáveis. O quartel onde estávamos ficava inacessível às colunas de abastecimento que, mensalmente, traziam, desde Luanda, o que fazia falta aos cerca de 400 soldados. Passávamos algumas semanas em que o abastecimento era feito por aviões, que lançavam os caixotes com comida e outros bens necessários. Por vezes, o vento estava a favor do “inimigo”, presenteando-o com a carga dos pára-quedas desviados do alvo…Passávamos então dias e dias a comer salchichas com arroz!

Lembro-me duma altura em que, para nos deslocarmos 40 kms, até ao quartel mais próximo, situado na fazenda Madureira, demorámos uma semana, encontrando algumas vezes no lugar da picada, um caudaloso rio que fazia desaparecer grandes troços do caminho, transformado num pântano...


Nesses pântanos era frequente os veículos mais pesados ficarem atascados até aos eixos, o que significava um ou dois dias de atraso, gastos a salvar o viatura do atoleiro. Apenas esses veículos milagrosos chamados “Unimog” conseguiam passar aí, recorrendo ao guincho montado na frente. O cabo era preso a uma árvore na direcção do nosso destino e o guincho arrastava esses “burros do mato” para terreno seco.
Aliás, eu inventei um sistema de reboque utilizando dois ou três unimogues com guincho e algumas roldanas, conseguindo, ao colocar os cabos a puxar de várias direcções e alturas, retirar pesados camiões desses atoleiros. Lembro-me dum camião, marca “Magirus", creio, que fora dado como perdido, depois de as tropas de Engenharia munidas de bulldozers e gruas, terem desistido de o retirar.

Recorrendo aos guinchos dos “burros do mato”, conseguiu-se endireitar o camião e, depois, arrastá-lo para terreno firme. Claro que a carga, constando de, entre outras preciosidades, muitas garrafas de whisky, desapareceu misteriosamente. Consta dos relatórios que caiu nas mãos do “inimigo”, mas cá por mim, penso que o destino da carga foi outro, pois, também misteriosamente, muitos soldados, no resto do caminho, cantavam alegremente, tais eram as bebedeiras…
Quem também ficou muito contente foi o condutor e dono do camião, só faltou beijar-me os pés, agradecido…









sábado, abril 19, 2008

Platão era mesmo visionário!


"A penalização por não participares na política, é acabares a ser governado pelos teus inferiores"

A recente manifestação de professores veio levantar directamente a questão da democracia que temos: Muitos dos participantes na maior manifestação dos últimos anos se questionavam sobre o que tal movimento poderia fazer mudar na política do governo, considerando que nem com a oposição podem contar, pois esta é incapaz de perspectivar qualquer mudança.
As maiorias que nos governam já mostraram que não defendem os interesses da maioria da população portuguesa. O que impõe a questionação do tipo de democracia que temos.

Sim: As minorias podem ter razão! Representação proporcional e direito à palavra com tempo de antena mínimo.
Não: Método de Ondt (1), a chantagem do “Voto Útil”…

Sim; Na Grécia antiga, as decisões de governação eram discutidas pelos cidadãos no fórum.Cada um dava a cara pelas suas ideias, votando de braço no ar.
Não: Voto secreto (com excepção daqueles em que estão em causa indivíduos);
Qualquer um podia participar, responsavelmente: Pedia a palavra e apresentava as suas ideias livremente

Sim: Fundar um partido deve ser um acto simples, com a burocracia e garantias minimamente para identificar linha geral, representantes e responsáveis.
Não: exigência de grande número de assinaturas para fundar um partido.

Desse modo, ninguém pode argumentar que não participa na vida política por não existir nenhum partido que defenda os seus interesses – nessas condições, pode facilmente formar um. Requisitos mínimos: ter um programa e estatutos; corpos dirigentes e candidatos; Tesoureiro e conselho fiscal

Não: As campanhas eleitorais resumem-se a uma exibição de força, medida pelo custo dos meios utilizados e implicando gastos de muitos milhares de euros desperdiçados. E apenas se processam de 4 em quatro anos…
Sim: a campanha deve ser económica e permanente, assim como a possibilidade de eleição, substituição ou destituição dos deputados deveria ocorrer com frequência, pelo menos, anual.

(1) Método pelo qual a representatividade dos mais votados é ampliada à custa dos menos votados, desequilibrando a proporção a favor das maiorias, retirando expressão às minorias.

sexta-feira, janeiro 18, 2008

Sobre a Minha Guerra Colonial


No “Yahoo Answers” perguntaram sobre a Guerra Colonial. Ofereci-me para dar a minha versão, mandaram-me um questionário, deu isto. Como achei que o assunto era polémico, resolvi publicar, para ver se o pessoal alinha. Aqui vai:

Entrevista:

P: - Como se vivia em Portugal em período de guerra?
 
Os anos 50 conduziram a uma gradual melhoria de vida nas cidades, determinando um fluxo do mundo rural para a costa. Também marcam o início da emigração para a Europa, principalmente para Alemanha e França. Nos anos 60 já existia uma pequena burguesia urbana que, embora com sacrifício, conseguia por os filhos a estudar, alguns chegando à Universidade. Esses jovens tinham a ameaça da guerra colonial a pairar sobre as suas vidas. Eram contra a ditadura e contra a guerra!
 
P. – Entrou na guerra certo? Então como reagiu a sua família?


 Entrei na guerra, tal como todos os jovens da minha idade. O serviço militar era obrigatório e aqueles que não fugiam para o estrangeiro eram mobilizados para servir nos três teatros de guerra: Guiné, Angola e Moçambique. A perspectiva de ir para a guerra era dramática: Ninguém empregava um jovem que não tinha cumprido o serviço militar: Nenhuma menina queria namorar um jovem em vias de embarcar…rs!
As ideias pacifistas e democráticas entravam em conflito imediato com a perspectiva de servir numa guerra da iniciativa do regime ditatorial de então.

 
P: -Em que colónia portuguesa prestou serviço militar?

Em Angola, como alferes sapador.

P: -Em que ano «foi mobilizado» (isto é, partiu para essa colónia)?

Entrei para a recruta em Outubro de 1967, embarquei em Outubro de 1968 e regressei em Novembro de 1970

P: -Que idade tinha?

Em Novembro de 1970 fiz 24 anos.

P: -Quanto tempo lá permaneceu?

Cumpri 2 anos e 1 mês

P: -Em que lugares esteve «colocado»?

Estive inicialmente em Zala (zona de floresta equatorial a Norte de Luanda) e no segundo ano, em Catete (savana, perto de Luanda).

P: -Esses lugares eram zona de guerra?

Zala era zona 100% operacional. Catete era zona pacificada, embora sujeita a ataques esporádicos.


 P: -Havia muita diferença entre o armamento e o equipamento dos portugueses e o dos guerrilheiros?

 Em Angola e em Moçambique, os guerrilheiros estavam mal armados. Na Guiné, os guerrilheiros tinham armamento sofisticado, incluindo mísseis terra-ar, ameaçando praticamente derrotar o exército português.

 P: -Participou nalguns combates?

Como sapador, as minhas funções eram de lançamento de campos de minas defensivos e levantamento de minas e armadilhas, construção de estradas, pontes e instalações diversas. Sofri no entanto alguns ataques, sendo um particularmente grave pois fiquei sobre o fogo directo dos “terroristas” – nome dado então aos guerrilheiros, chamados de “Turras” pelos tropas.


P: -
Se sim: Pode descrever algum dos combates em que participou?

O ataque mais grave que sofri deu-se nas imediações do quartel, numa colina a cerca de 500 metros da vedação de arame farpado.
Fui surpreendido quando descia, desarmado, ao encontro dos meus soldados que foram apanhar lenha para fazer a comida. Ouvi um primeiro Ziim-PAC Pum – tiro que bateu bem perto! Corri desesperadamente colina acima procurando abrigo, perseguido por mais três Ziiim-PAC Pum, correspondentes a mais três tiros que acertaram no chão, a cerca de 1 metro de mim. Sorte os guerrilheiros terem má pontaria, pois estavam emboscados a cerca de 250 metros! Como resposta, os soldados de sentinela começaram a disparar freneticamente e eu, no meio daquilo, receando ser apanhado pelos dois fogos, atirei-me para um buraco e lá fiquei até que
os nossos soldados me foram buscar! Ninguém sai desta experiência igual ao que era dantes…!
 
P: -O que o impressionou mais na guerra colonial?


 A contradição entre a beleza da floresta e os perigos que ela escondia; O facto de a maior parte das mortes ser devida a acidentes – das 11 mortes no nosso batalhão (uns 700 homens) apenas 5 foram devidas à acção directa do inimigo. 

P: -Acha que a participação na guerra colonial influenciou a sua vida? 

Sim; a tensão, medo e isolamento a que estive sujeito durante aqueles anos me deprimiram a ponto de andar os 20 anos seguintes a tomar calmantes e anti-depressivos.

P: -Tem fotos da sua permanência no ultramar?

Ver foto a seguir, mostrando os componentes duma armadilha explosiva que eu levantei.



P: - Como se sente depois disto?

Agora, a minha idade me fez perceber muita coisa da vida, da guerra e da paz. Estou tranquilo e sem comprimidos, esperando que um dia o Ser Humano evolua o suficiente para viver sem guerra e sem exploração, tentando fazer o que estiver ao meu alcance nesse sentido.
 
P: -Pode-me dizer uma visão Global desta guerra?


 Hipocrisia! Na verdade, os povos das colónias estão agora pior do que estavam no tempo do colonialismo. A treta do anti-colonialismo foi apenas um estratagema, sob a capa dos mais nobres ideais da autonomia e libertação dos povos, para transferir para as grandes potências o saque e rapina feitos pelos países mais fracos, como, neste caso, Portugal. Agora, o grande capital internacional explora África através de dirigentes africanos corruptos, sem outros países intermediários…