O Poder das Palavras
As palavras têm poder - dizem-no escritores, críticos, políticos, poetas... Isso bateu-me forte enquanto, num domingo de Inverno esperava a chegada do METRO: "10:30" assinalava o quadro luminoso de informações - 10 minutos e 30 segundos de espera, portanto.
Tempo para observar os circunstantes, os anúncios, e aproximo-me do quadro das informações do METRO montado na parede - Direitos e deveres do utente, horários... Pois, HORÁRIOS! E deparo com duas palavrinhas no meio daquilo tudo: "DIAS ÚTEIS". Sacanas, cobras venenosas, disfarçadas de mera informação, mas automaticamente ferrando o leitor dos quadros. "DIAS ÚTEIS"!
Examinando o quadro, chego à conclusão que os tempos de espera nos dias úteis são de quase metade dos tempos de espera nos outros dias que não "dias úteis", que a frequência destes, de manhã cedo, nos chamados "dias úteis" é muito maior que durante o fim da tarde e que essas frequências diminuem ainda mais aos sábados e domingos.
Ora que grande descoberta! Pois desde que existe METRO em Lisboa, desde os meus 12 anos, que eu sei, por experiência própria, que aos sábados e domingos, TODOS os transportes públicos se rarefazem. Então, onde está a novidade??
É que agora, com o desmantelamento da nossa economia, com a gestão predadora do trabalho e das nossas riquezas, com as imposições da Tróica, o desemprego, subemprego e trabalho escravo, percebe-se claramente que o tempo que temos usado nos dias e horas em que não trabalhamos é que é verdadeiramente útil para nós! Enfim, pode-se agora sentir, bem sentido, que o "ÚTIL" tinha um dono. Ou seja, que fazia sentido perguntar: ÚTEIS PARA QUEM?! A quem servem os transportes públicos?
Pois é, aquelas duas palavrinhas, DIAS ÚTEIS, ali estavam, poderosas, portões fechados e óbvios que se passam sem sequer se pensar no que escondem.
Pois, naquele "dia inútil de domingo", naqueles "inúteis" minutos e segundos de espera, também senti, mais forte que nunca, que o nosso precioso tempo, nesta sociedade, tem um dono, que transportes e palavras o servem e protegem, entretendo os trabalhadores em tarefas e em torno de interesses que, a maior parte das vezes, nada tem a ver com os seus...