REFLEXÃO IV
Agora é a vez da Marcinha:
Quando digitamos o código do nosso cartão Multibanco, confiamos nas possíveis 10.000 combinações. No entanto, as hipóteses de perdermos ou de nos roubarem o cartão, conjugadas com as de quem, tendo-o na mão, o usa digitando um número aleatório e acerta, como se podem quantificar? Serão de uma em dez milhões ou mais, mas, seguramente, muitíssimo maiores do que a de esbarrarmos na rua com o nosso clone exacto…! Quer dizer q a Marcinha vai a correr tirar o dinheiro do banco e escondê-lo debaixo do colchão?
E quem diz que a impressão digital é única? Acaso já testaram todas as impressões digitais de todos os seres humanos que existem, existiram e existirão?
No fundo, estamos a falar no plano prático. Os parâmetros definidores dum ser humanos poderão, de facto, ser infinitos, pois dentro de cada célula, de cada nossa molécula, de cada átomo, poderão existir universos completos de outra dimensão, com estrelas, planetas, enfim, como as caixas de bonecas russas, umas, dentro de outras, dentro de outras, ad infinitum….
Portanto, aí, na fórmula estatística, teríamos infinito sobre infinito, o que não dá zero, dá um indeterminação.
Mas no mundo real, usando apenas os parâmetros do observador normal, ainda que munido de microscópios poderosos, teríamos sempre um número finito de parâmetros, o que dá zero, na fórmula estatística. Ou seja, os clones de que falo, seriam, em rigor, diferentes ou indeterminados, num plano espiritual, infinito, mas iguais, no plano físico, prático, humano…
Espero que tenha deixado claro em que planos acho que podemos dizer que cada ser humano é único e irrepetível ou que é apenas apenas mais um no meio de uma infinidade de outros iguais.
Curioso, meus amigos, vocês são seres cuja função aqui é despertar em mim mais elucubrações que podem não ser minimamente aquelas que vocês vêm levantar…
O Manel, por exemplo, com o seu comentário meio brincalhão, fez-me formular a hipótese do espírito ir buscar algures no espaço e no tempo infinito os nossos fac-similes e alinhá-los numa história de vida, definida pelas sucessivas decisões que vamos tomando…
Agora a Marcinha, com a mais simples questão que levantou, no comentário à “Reflexão II”, ajuda-me a resolver uma fragilidade insuspeitada na minha tese que me persegue desde que a postei, como um fantasma monstruoso: Será que, de certeza, existe algures, no tempo ou no espaço, um Álvaro de três cabeças?
Pergunta ela no seu comentário:
”aproximar-se de 1 não é igual a 1, não é mesmo?”
O que significa um valor de inteiro (por maior que seja) sobre infinito tender para zero? Qualquer valor de parâmetros que se determine será dividido por infinito, dando zero. Mas TEM QUE SE DETERMINAR esses parâmetros antes de afirmar que dá zero. E isso é importante, pois se o valor fosse zero, sem mais, poderíamos afirmar que, de certeza, existirá algures, no tempo e no espaço infinitos, um Álvaro igual a mim mas… com três cabeças! Para fazer esse teste, tínhamos primeiro que determinar os parâmetros desse homem e, como a natureza, pela sua própria lógica de funcionamento, não pode criar homens com três cabeças, não saberíamos determinar o valor a colocar no numerador daquela fórmula, daí, não a podermos aplicar, não podendo afirmar de certeza que existe um Álvaro com três cabeças…
…Ufa! Que susto! Agradeço então à Marcinha por ter posto aquela questão, pois ajudou-me a libertar-me deste pesadelo horrível!
...E a Alexandra também despertou em mim outro verme elucubrador… Veremos isso talvez na próxima postagem.