Cais das Colunas e OSHO - Versão Abreviada da Tradução Anterior
Tenho que pedir desculpa aos meus leitores! De facto, um texto de mais de 4 páginas é demasiada pedra para partir...!
Mas como eu acho que o texto do OSHO que traduzi e apresentei a semana passada é muito interessante e pode originar uma boa polémica, resolvi insistir, agora numa versão abreviada com mais ou menos 3 páginas, e com umas imagens intermédias, de minha autoria, para descansarem entre parágrafos. Será desta que vão ler tudo e fazer comentários como deve ser?
Aqui vai:
O QUE É ESTE ANSEIO EM MIM QUE NENHUM RELACIONAMENTO PODE SATISFAZER, QUE NÃO HÁ LÁGRIMAS QUE ALIVIEM, QUE NÃO É ALTERADO POR MUITOS E BELOS SONHOS E AVENTURAS?
Prem Kavita, é assim, não só consigo, mas com qualquer pessoa que tenha um pouco de inteligência. Isso não é sentido por gente estúpida, mas a pessoa inteligente está, mais tarde ou mais cedo, condenada a tropeçar com o facto — e quanto mais inteligente for, tanto mais cedo vai acontecer – de que nenhum relacionamento a pode satisfazer.
Porquê? — porque cada relacionamento é apenas uma seta de indicação para a relação final; é um marco, não é uma meta. Cada caso de amor é apenas um sinal indicativo para um caso de amor maior lá mais para a frente – é apenas um gostinho, mas esse gostinho não vai saciar sua sede ou satisfazer sua fome. Pelo contrário, esse gostinho fará com que você fique ainda mais sedento, vai fazê-lo mais faminto.
É o que acontece em todas as relações. Ao invés de o satisfazer, dá-lhe uma enorme insatisfação. Cada relação falha neste mundo - e é bom que falhe; teria sido uma maldição se não fosse assim. É uma bênção esse falhar. Porque cada relacionamento falha, é por isso que você começar a procurar o relacionamento supremo com deus, com a existência, com o cosmos.
Você vê a futilidade uma e outra e outra vez, que não se vai ser satisfeito por nenhum homem, por nenhuma mulher; que cada experiência acaba numa enorme frustração, começa com uma grande esperança e deixa-lo no grande desespero. É sempre assim, chega num grande romance e termina num gosto amargo. Quando isso acontece uma e outra vez, tem que se aprender algo - que cada relacionamento é apenas uma experiência para o preparar para a relação final, para o supremo caso de amor.
(…)
É disso que trata a religião. Você diz: "o que é este anseio dentro de mim que nenhuma relação consegue satisfazer"? É o anseio por deus. Pode ter consciência disso, pode não ter. Poderá ainda nem ser capaz de expressar, exacta-mente o que é, porque no início é muito vago, nublado, cercado por grande névoa. Mas é o anseio por deus, é o desejo de fundir-se com o todo, para que acabe a separação.
Você não se pode unir com um homem ou uma mulher para sempre, a separação terá que acontecer. Essa fusão só pode ser momentânea e depois que esse momento desaparece você vai ficar numa profunda escuridão. Depois que o flash, que o relâmpago, se foi, a escuridão vai ser ainda maior do que dantes. É por isso que milhões de pessoas decidem não entrar em qualquer relacionamento amoroso - porque pelo menos uma pessoa fica habituada à escuridão e, se não conheceu outra coisa, tem uma certa satisfação: sabe que a vida é isso, que há não nada há mais do que isso, portanto não há nenhuma insatisfação.
Uma vez que você tenha provado o amor, uma vez que você tenha vivido esses momentos de alegria, dessa tremenda pulsação quando duas pessoas já não são dois.... Mas você cai uma vez e outra dessas alturas; e de cada vez que cai, a escuridão é muito mais escura do que dantes, porque agora você sabe o que é luz.
Agora você sabe que existem esses picos elevados, agora você sabe que a vida tem muito mais para lhe oferecer, que esta existência mundana de ir ao escri-tório todos os dias e voltar para casa e comer e dormir - que essa existência mundana não é tudo, que esta existência mundana é apenas a entrada do palácio.
Se você nunca foi convidado a entrar e tem vivido sempre no lado de fora da porta, então, você acha que isso é o que a vida é, vive no alpendre. Uma vez que uma janela é aberta e você pode ver o interior do palácio — a sua beleza, a sua grandiosidade, o seu esplendor — ou quando é convidado a entrar um bocadinho e logo posto para fora mais uma vez, então o alpendre já não pode satisfazê-lo. Agora este alpendre passa a ser um fardo pesado em seu coração. Agora você vai sofrer, sua agonia vai ser grande.
Esta é a minha observação, que as pessoas que são muito pouco criativas andam mais satisfeitas do que as pessoas que são criativas. A pessoa criativa fica muito insatisfeita, porque sabe que muito mais é possível mas que isso não está a acontecer. Porque não acontece?
A pessoa criativa está constantemente à procura; não pode estar descansado, porque viu alguns relances. De vez em quando abriu-se uma janela e ele viu lá para dentro. Como pode ele ficar em paz? Como pode ele sentir-se confortável e aconchegado naquele estúpido alpendre? Ele sabe do palácio, viu o rei também e sabe, "aquele palácio pertence-me, tenho direito a ele desde que nasci” tudo que é preciso saber é como entrar no palácio, como se tornar um residente permanente nele. Sim, momentaneamente ele entrou, mas tem sido constantemente posto fora.
Quanto mais sensível uma pessoa é, mais descontente se vê. Quanto mais inteligente, mais descontentamento encontrará. Tem sido sempre assim.
(…)
Os ocidentais estão a tornar-se insatisfeitos porque o conforto, as comodidades, tudo o que a ciência lhes tem proporcionado, deu-lhes tanto tempo para explorar, para meditar, rezar, para tocar música, dançar, que alguns vislumbres começaram a acontecer. Eles estão a tornar-se conscientes de que há muito mais na vida do que aparece na superfície, tem que se mergulhar bem fundo.
(…)
Uma vez que um país se torna rico, torna-se sensível. Uma vez que um país se torna rico, influente, toma conhecimento das muitas, muitas dimensões da vida que sempre estiveram lá, mas não se tinha tempo para ver. O país rico começa a pensar de música, pintura, poesia e, finalmente, meditação - porque a meditação é o último luxo. Não há nenhum luxo maior do que a meditação. Meditação é o último luxo, porque é o último caso de amor.
É bom, Kavita, que os seus relacionamentos não o satisfaçam. Os indianos estão muito satisfeitos, porque na verdade, eles não têm nenhuma relaciona-mento de todo. Casamento, não tem nada a ver com um relacionamento. Os pais decidiram e os astrólogos e quiromantes. Não tem nada a ver com as pes-soas que se vão casar; eles não são sequer ouvidas, simplesmente são coloca-das numa determinada situação em que começam a viver juntos. Isso não é um relacionamento.
Eles poderão produzir as crianças, mas isso não é amor: não há nada de romance. Mas uma coisa isso tem de bom: é muito estável. Quando não há nenhum relacionamento não há nenhuma possibilidade de divórcio. O divórcio é possível somente se houver amor. Tente compreender-me: o amor significa grandes esperanças, o amor significa "eu cheguei". O amor significa "eu encontrei a mulher ou o homem". O amor significa a sensação de que "nós somos feitos para um o outro". Amor significa que já não há nenhuma necessidade de procurar mais.
Se você partir dessas grandes esperanças, quando a lua de mel acaba, a relação acabará. Aquelas grandes esperanças não podem ser cumpridas por seres humanos. Você espera que a mulher seja uma deusa: não é. Ela espera que o homem seja um deus; ele não é. Então, quanto tempo podem se ir iludindo uns aos outros? Mais cedo ou mais tarde eles vão começar a ver a realidade. Eles vão ver a realidade e a ficção começará a evaporar-se.
Nenhuma relação pode satisfazê-lo, porque cada relacionamento começa com uma enorme expectativa, e isso é impossível de preencher. Sim, essa esperança, pode ser preenchida mas somente quando se estiver apaixonado pelo todo. Nada que seja apenas parcial pode fazê-lo. Quando se estiver apaixonado pelo total, quando acontece a fusão com a total, só então haverá satisfação. Vai haver ninguém para estar satisfeito, haverá simplesmente satisfação. E, então, ela não terá fim.
Eu sou todo pelo amor, porque o amor falha. Você fica surpreso – mas eu tenho minha lógica. Eu sou todo pelo amor, porque o amor falha. Eu não sou pelo casamento, porque casamento é bem sucedido; dá-lhe uma estabilidade permanente. E esse é o perigo: tornar-se satisfeito com um brinquedo, você tornar-se satisfeito com algo plástico, artificial, feito pelo homem.
(…)
Eu sou todo pelo amor e sou contra o casamento, particularmente o do tipo organizado, porque o casamento arranjado dá satisfação. E o amor? – o amor nunca pode satisfazê-lo. Dá-lhe mais e mais sede de um amor cada vez melhor, fá-lo ansiar cada vez mais por ele, dá-lhe uma enorme insatisfação. E esse descontentamento é o começo da procura de deus. Quando o amor falha muitas vezes, você começa à procura de um novo tipo de amante, um novo tipo de amor, uma nova qualidade de amor. Esse caso de amor é oração, meditação, os sannyas.
Kavita, é bom que o desejo de comuns casos de amor nunca chegue a ser satisfeito. Esse anseio será intensificado mais; nenhuma relação o vai satisfazer. Esses casos de amor comuns vão fazê-lo mais frustrado e nenhumas lágrimas o vão aliviar, não podem aliviar. Elas podem ajudar na altura, mas você voltará a estar cheio de dor e agonia. Nada será alterado por muitos e belos sonhos e aventuras, nada mudará. Contudo, eu digo que passe por isso. Nada será alterado, mas você será mudado ao passar por todos esses sonhos e belas aventuras. Nada será alterado no mundo.
Pense bem, Kavita, esta pergunta surgiu em si. Isso é uma mudança. Quantas pessoas há que se colocam este tipo de questão? Esta pergunta não é uma pergunta comum; não é pura curiosidade. Eu posso sentir a dor, a agonia; eu posso sentir suas lágrimas, eu posso ver suas frustrações nela, eu posso ver toda essa infelicidade e sofrimento por que deve ter passado. É quase palpável.
Nada muda no mundo. Mas, de queda em queda, algo muda em você - e isso é revolução. Até mesmo colocar uma pergunta desta natureza significa que está à beira de uma revolução. Então, é necessária uma nova aventura. As velhas aventuras falharam e é necessária uma nova - não no sentido de que você tem que procurar um outro homem ou uma outra mulher - uma nova, no sentido de que tem que procurar em uma nova dimensão.
Essa dimensão é a dimensão do divino.
Eu digo-lhe: estou preenchido e contente. Não por qualquer relacionamento no mundo, não por qualquer caso de amor no mundo, mas ter um romance com a existência inteira preenche-nos totalmente. E quando uma pessoa está preenchida, começa a transbordar. Não pode conter sua própria satisfação. Ela é abençoada, e é tão abençoada que começa a abençoar os outros. É tão abençoada que se torna uma bênção para o mundo.
Aos interessados que chegaram até aqui na leitura, pergunto, se lhes restam neurónios: Concordam? Discordam? Querem comentar?