REFLEXÃO I
(…) Queria acreditar num Deus para lhe pedir protecção, e para dar alento, esperança e salvamento a quem já se vê a braços com este drama. Mas não tenho em que acreditar (…).
E comentei:
"Comovente, o teu relato, pelos sentimentos que revela...Mas pensa bem, Ana, se "Deus" é aquilo que tudo determina e influencia, e se acreditas que tudo influencia tudo e está relacionado com tudo, então "Deus" é...TUDO! Procura então o Deus que tu também és!"
O Zen (blog ao lado), leu e mandou-me um mail:
(…) Diz-me, qual é a tua visão do divino? Sentes Deus? De que forma? Professas alguma fé? (…)
Como resposta, pedi-lhe para fazer alguma preparação prévia:
“Como preparativo, sugiro-te o seguinte:
- Veres o filme 2001 – Odisseia no Espaço (se já o viste, recorda-lo);
- Ires ao "Trance Dance" na tarde de Domingo (para entrares em transe...LOL);
- Recordares o texto no meu blog sobre "Corrida Mística".”
E agora, respondo-lhe directamente aqui no meu blog, mas esperando trazer ao tema, à conversa e à polémica, mais passeantes que aqui, na minha praia, venham a desembarcar:
Antes de passar a responder àquelas perguntas iniciais que colocaste, e sempre pressupondo que vais praticando aqueles “exercícios preparatórios” que te recomendei acima, passo a responder à outra questão que colocaste na tua última mensagem:
“ (…) Dei por mim a navegar “ noutras latitudes” da consciência e isso trouxe-me alguma paz (…) Como interpretar tudo isto sem tropeçar numa condição alienada de interpretação da realidade? (…)”
Zen, percebo perfeitamente o que sentes. É que eu nem baptizado sou, fui ateu fundamentalista até aos meus 45 anos, e depois comecei a fazer essa mesma interrogação…
Curioso, alguns católicos praticantes começaram a fazer a pergunta inversa e deixaram a Igreja!
Comecemos por aí: A Igreja tem sido usada pelos homens para manipular a fé dos crentes a favor dos poderosos – Dan Brown, um escritor que admiro pela sua imaginação e, muito mais, pela sua coragem, denuncia esse mecanismo diabólico no seu Código de Da Vinci, livro muito falado, mas pouco compreendido na sua mensagem de regeneração e emancipação religiosa, aspectos sistematicamente ignorados pelos Media, dos jornais ao cinema, passando pela crítica literária. Como convém ao sistema…!
Pois a Igreja, ao longo de séculos apoderando-se de palavras e conceitos, afastou o homem comum de qualquer possibilidade de elevação religiosa. A religião tem uma vertente Transaccional e outra, Transformacional. A primeira, acompanha e suaviza a vida, a segunda, eleva o homem para além da vida, fazendo a re-ligação com as esferas superiores, re-ligação donde vem o nome religião. A primeira, é o baptismo, primeira comunhão, missa aos Domingos, leitura estática da Bíblia (de preferência em Latim, como quer o novo Papa), prece, confissão, penitência, casamento, extrema-unção. A segunda, é o exemplo dos grandes Místicos, de Cristo, de S. Tomás de Aquino, da Madre Teresa de Calcutá…
Ou seja: O que afasta as pessoas de pensar em transcendências dessas, é a Igreja que conhecemos, pois monopolizou os conceitos, até as palavras, e como te posso eu agora falar em Deus sem que vejas um velhinho de túnica e barbas brancas? Sem que te lembres das orações que te obrigavam a papaguear na catequese? Das leituras estáticas e obscurantistas da Bíblia? Das beatas falsas? No cardeal Cerejeira? Da inquisição? Das populações embrutecidas ou fanáticas?
Pois é, primeiro, temos que perceber este lamaçal e denunciá-lo, limpar as palavras e conceitos, para então podermos pensar livremente e sem medos de fantasmas…
Até à próxima reflexão.