II parte do texto: O Materialismo Filosófico Marxista
Para os leitores mais interessados, nos termos da minha postagem anterior para a qual remeto, por aqui:
http://aleddd.blogspot.com/2011/09/muro-de-elucubracoes.html
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2º - O Materialismo Filosófico Marxista
é caracterizado pelos seguintes traços fundamentais:
a) Ao contrário do idealismo, que considera o mundo como a encarnação da “ideia absoluta”, do “espírito universal”, da “consciência”, o materialismo filosófico de Marx parte do princípio de que o mundo, pela sua natureza, é material. que os múltiplos fenómenos do universo são os diferentes aspectos da matéria em movimento; que as relações e o condicionamento recíprocos dos fenómenos, estabelecidos pelo método dialéctico constituem as leis necessárias ao desenvolvimento da matéria em movimento; que o mundo se desenvolve segundo as leis do movimento da matéria e não tem necessidade de qualquer “espírito universal”.
A concepção materialista do mundo diz Engels, significa simplesmente a concepção da natureza, tal como ela é e sem nenhuma adição estranha.
A propósito da concepção materialista do filósofo da antiguidade Heraclito, para quem
o mundo é uno, não foi criado por nenhum deus nem por nenhum homem, foi, é e será uma chama eternamente viva.
Escreve Lenine sobre isto:
Excelente exposição dos princípios do materialismo dialéctico (Lenine: Cadernos de, filosofia).
b) Ao contrário do idealismo, para quem só a nossa consciência existe realmente, para quem o mundo material, o ser, a natureza, só existe na nossa consciência, nas nossas sensações, representações, conceitos, o materialismo filosófico marxista parte do princípio que a matéria, a natureza, o ser, é uma realidade objectiva exis-tindo fora e independentemente da. consciência; que a matéria é um fato primordial; pois é a origem das sensações, das representações, da consciência, enquanto a consciência é um dado secundário, derivado, pois é o reflexo da matéria, o refle-xo do ser; que o pensamento é um produto da matéria, quando esta atingiu, no seu desenvolvimento, um alto grau de perfeição; mais precisamente, o pensamento é o produto do cérebro e o cérebro é o órgão do pensamento; não se poderia, portanto, separar o pensamento da matéria sob pena de cair num erro grosseiro.
A questão da relação do suprema de toda a filosofia diz Engels (...): Os filósofos dividiam-se em dois campos importantes, segundo a resposta que davam a esta questão. Os que afirmavam a anterioridade do espírito em relação à natureza... formavam o campo do idealismo. Os outros, os que confederavam a natureza como anterior, pertenciam às diferentes escolas do materialismo. (Ludwig Feuerbach e o fim da filosofia clássica alemã).
E mais adiante:
O mundo material, perceptível pelos sentidos, ao qual nós próprios pertencemos, é a única realidade... A nossa consciência e o nosso pensamento, por mais transcendentes que pareçam não são mais do que um produto de um órgão material, corporal, o cérebro. A matéria não é um produto do espírito, mas o próprio espírito, não é senão o produto superior da matéria (Ibidem).
A propósito do problema da matéria e do pensamento, escreve Marx:
Não se poderia separar o pensamento da matéria pensante. Esta matéria é o substrato de todas as transformações que se operam. ( A Sagrada Família).
Na sua definição do materialismo filosófico marxista, Lenine exprime-se nestes termos:
O materialismo aceita, de um modo geral, que o ser real objectivo (a matéria) é independente da consciência, das sensações, da experiência A consciência... não é senão o reflexo do ser, no melhor dos casos um reflexo aproximadamente exalto (completo, de uma precisão ideal) (materialismo e Empiriocriticismo).
E mais adiante:
A matéria é o que, tatuando sobre os nossos órgãos dos sentidos, produz as sensações; a matéria é uma realidade objectiva que nos é dada nas sensações... A matéria, a natureza, o ser, o físico, é o primeiro dado, enquanto o espírito, a consciência, as sensações, são o dado secundário. O quadro do mundo é um quadro que mostra que a matéria se move e como a matéria pensa. O cérebro é órgão do pensamento. (Ibidem).
c) Ao contrário do idealismo, que contesta a possibilidade de conhecer o mundo e as suas leis; que não crê no valor dos nossos conhecimentos; que não reconhece a verdade objectiva e considera que o mundo está cheio de coisas em si que jamais poderão ser conhecidas da ciência, o materialismo filosófico marxista parte do princípio de que o mundo e as suas leis são perfeitamente conhecíveis, de que o nosso conhecimento das leis da natureza, verificado pela experiência, pela prática, é um conhecimento válido, que tem o significado de uma verdade objectiva; de que não há, de forma alguma, no mundo, coisas que não podem ser conhecidas, mas unicamente coisas ainda desconhecidas, as quais serão descobertas e conhecidas pela ciência e pela prática.
Engels critica a tese de Kant e dos outros idealistas, segundo a qual o mundo e as coisas em si não se podem conhecer e defende a tese materialista bem conhecida, segundo a qual os nossos conhecimentos são válidos. Escreve a este respeito:
A refutação mais contundente deste capricho filosófico, como aliás de todos os outros, é a prática, principalmente a experiência e a indústria. Se podemos provar a justeza da nossa concepção de um fenómeno natural criando-o nós próprios, fazendo-o surgir do seu próprio meio, e se, além disso, o colocamos ao serviço dos nossos objectivos, acaba-se a incompreensível coisa em si de Kant. As substâncias químicas produzidas nos organismos vegetais e animais consideram-se coisas em si até ao momento em que a química orgânica os começou a preparar um após outro; por isso, a coisa em si tornou-se para nós uma coisa, como por exemplo, a matéria corante da ruiva-dos-tintureiros, a alizarina, que já não extraímos das raízes da ruiva-dos-tintureiros, cultivada nos campos, mas que tiramos, mais económica e simplesmente, do alcatrão da hulha. O sistema solar de Copérnico foi, durante trezentos anos, uma hipótese em que se poderia apostar cem, mil, dois mil contra um - apesar de tudo, era uma hipótese; mas quando Leverrier, com o auxílio dos números obtidos graças a este sistema, calculou não só a necessidade da existência de um planeta desconhecido, mas também a localização deste no espaço celeste, e quando Galle o descobriu a seguir, o sistema de Copérnico foi verificado (Ludwig Feuerbach e o fim da filosofia clássica alemã).
Lenine acusa de fideísmo (teoria reaccionária que dá primazia à fé sobre a ciência) Bogdanov, Bazarov, Iouchkévitch e outros partidários de Mach; defende a tese materialista bem conhecida, segundo a qual os nossos conhecimentos científicos das leis da natureza são válidos e as leis científicas são verdades objectivas; diz acerca disto:
O fideísmo contemporâneo nunca repudia a ciência; só repudia as pretensões excessivas, por exemplo, a preten¬são de descobrir a verdade objectiva. Se existe uma verdade objectiva (como pensam os materialistas), se as ciências da natureza ao reflectirem o mundo exterior na experiência humana, são as únicas capazes de nos darem a verdade objectiva, qualquer fideísmo deve ser absolutamente rejeitado (Materialismo e Empiriocriticismo).
Tais são, em resumo, as características distin¬tivas do materialismo filosófico marxista.
Concebe-se facilmente a importância considerável que toma a extensão dos princípios do materialismo filosófico ao estudo da vida social, ao estudo da história da sociedade; compreende-se a importância considerável da aplicação destes princípios à história da sociedade, à actividade prática do partido do proletariado.
Se é verdade que a ligação dos fenómenos da natureza e o seu condicionamento recíproco são leis necessárias ao desenvolvimento da natureza, resulta que a ligação e o condicionamento recíproco dos fenómenos da vida social, também eles, não são contingências, mas leis necessárias ao desenvolvimento social.
Consequentemente, a vida social, a história da sociedade deixa de ser uma acumulação de “contingências”, pois a história da sociedade torna-se um desenvolvimen-to necessário da sociedade e o estudo da história social passa a constituir uma ciência.
Deste modo, a actividade prática do partido do proletariado deve ser baseada, não nos desejos louváveis das “individualidades de elite”, nas exigências da “razão”, da “moral universal”, etc., mas nas leis do desenvolvimento social, no estudo destas leis.
Prossigamos. Se é verdade que o mundo é conhecível e que o nosso conhecimento das leis do desenvolvimento da natureza é um conhecimento válido que tem o significado de uma verdade objectiva, resulta que a vida social, que o desenvolvimento social é igualmente conhecível e que os dados da ciência acerca destas leis do desenvolvimento social, são dados válidos que têm o significado de verdades objectivas.
Assim, a ciência da história da sociedade, apesar de toda a complexidade dos fenómenos da vida social, pode tornar-se uma ciência tão exacta como, por exemplo, a biologia, e capaz de fazer servir as leis do desenvolvimento social às aplicações práticas.
Portanto, o partido do proletariado, na sua actividade prática, não deve inspirar-se em qualquer motivo fortuito, mas nas leis do desenvolvimento social e nas conclusões práticas que resultam destas leis.
Por isso, o socialismo, que outrora era o sonho de um futuro melhor para a humanidade, tornou-se uma ciência.
Então, a ligação entre a ciência e a actividade prática, entre a teoria e a prática, a sua unidade, deve tornar-se a estrela condutora do partido do proletariado.
Prossigamos. Se é verdade que a natureza, o ser, o mundo material são o primeiro dado, enquanto a consciência, o pensamento são o segundo dado, derivado do primeiro; se é verdade que o mundo material é uma realidade objectiva, que existe independentemente da consciência dos homens, enquanto a consciência é um reflexo desta realidade objectiva, resulta daí que a vida material da sociedade, o seu ser, é igualmente o primeiro dado, enquanto a vida espiritual é um segundo dado, igualmente derivado do primeiro; que a vida material da sociedade é uma realidade objectiva, que existe independentemente da vontade do homem, enquanto a vida espiritual da sociedade é um reflexo desta realidade objectiva, um reflexo do ser.
Portanto, é necessário procurar a fonte da vida espiritual da sociedade, a origem das ideias sociais, das teorias sociais, das opiniões políticas, das instituições políticas, não nas próprias ideias, teorias, opiniões e instituições políticas, mas sim nas condições da vida material da sociedade, no ser social, cujas ideias, teorias, opiniões, etc., são o reflexo.
Por consequência, se nos diferentes períodos da história da sociedade se observam diferentes ideias e teorias sociais, diferentes opiniões e instituições políticas, se encontramos no regime de escravatura tais ideias e teorias sociais, tais opiniões e instituições políticas, enquanto no feudalismo encontramos outras, e no capitalismo ainda outras, isso se explica não pela natureza, nem pelas propriedades das próprias ideias, teorias, opiniões e instituições políticas, mas pelas diversas condições da vida material da sociedade, nos diferentes períodos do desenvolvimento social.
O ser da sociedade, as condições da vida material da sociedade, eis o que determina as suas ideias, as suas teorias, as suas opiniões políticas, as suas instituições políticas.
A este respeito, escreveu Marx:
Não é a consciência dos homens que determina a sua existência. É, pelo contrário, a sua experiência social que determina a sua consciência (Contribuição Para A Crítica Da Economia Política, prefácio).
Assim, para não se enganar em política, para não se entregar a sonhos vazios, o partido do proletariado deve basear a sua acção, não nos abstractos “princípios da razão humana”, mas nas condições concretas da vida material da sociedade, força decisiva do desenvolvimento social; não nos desejos louváveis dos “grandes homens”, mas nas necessidades reais do desenvolvimento da vida material da sociedade.
A fraqueza dos utópicos, compreendendo os populistas, os anarquistas, os socialistas-revolucionários, explica-se, entre outras coisas, pelo fato de não reconhecerem o papel primordial das condições da vida material da sociedade, no desenvolvimento da própria sociedade; caídos no idealismo, baseavam a sua actividade prática, não nas necessidades do desenvolvimento da vida material da sociedade, mas, independente e a despeito destas necessidades, nos “planos ideais” e “projectos universais” desligados da vida real da sociedade.
O que dá a força e a vitalidade ao marxismo-leninismo é o fato de ele se apoiar, na sua actividade prática, precisamente nas necessidades do desenvolvimento da vida material da sociedade, sem jamais se desligar da vida real desta.
Do que disse Marx, não resulta, contudo, que as ideias e as teorias sociais, as opiniões e as instituições políticas não tenham influência na vida social; que não exerçam uma acção sobre a existência social, sobre o desenvolvimento das condições materiais da vida social. Até aqui falamos apenas da origem das ideias e das teorias sociais, das opiniões e das instituições políticas, do seu aparecimento; dissemos que a vida espiritual da sociedade é um reflexo das condições da sua vida material. Mas a importância destas ideias e teorias sociais, destas opiniões e insti-tuições políticas, do seu papel na historia, o materialismo histórico, longe de negá-los, sublinha, pelo contrário, o seu papel e a sua importância consideráveis na vida social, na história da sociedade.
As ideias e as teorias sociais diferem. Há velhas ideias e teorias, que tiveram o seu lugar na devida altura e que hoje servem os interesses das forças decadentes da sociedade. A importância que têm, é a de deter o desenvolvimento da sociedade, o seu progresso. Há ideias e teorias novas, de vanguarda, que servem os interesses das forças de vanguarda da sociedade. A sua importância resulta do fato de elas facilitarem o desenvolvimento da sociedade, o seu progresso; e, mais ainda, adquirem tanto mais importância quanto reflectem mais fielmente as necessidades do desenvolvimento da vida material da sociedade.
As novas ideias e teorias sociais só surgiram quando o desenvolvimento da vida material da sociedade colocou, diante desta, novas tarefas. Mas, uma vez surgidas, tornam-se uma força da maior importância que facilita a execução das novas tarefas, postas pelo desenvolvimento da vida material da sociedade; facilitam o pro-gresso da sociedade. É então que aparece toda a importância do papel organizador, mobilizador e transformador das ideias e teorias novas, das opiniões e instituições políticas novas. Na verdade, se surgem novas ideias e teorias sociais, é precisa-mente porque são necessárias à sociedade, porque sem a sua acção organizadora, mobilizadora e transformadora, é impossível a solução dos problemas prementes que acarreta o desenvolvimento da vida material da sociedade.
Suscitadas pelas novas tarefas, postas pelo desenvolvimento da vida material da sociedade, as ideias e teorias sociais novas abrem para si um caminho, tornam-se o património das massas populares que mobilizam e organizam contra as forças retrógradas da sociedade, facilitando com isso o derrube destas forças que impedem o desenvolvimento da vida material da sociedade.
É assim que, suscitadas pelas tarefas prementes do desenvolvimento da vida material da sociedade, do desenvolvimento da existência social, as próprias ideias e teorias sociais, as instituições políticas, influenciam, a seguir, a existência social, a vida material da sociedade, criando as condições necessárias para alcançar as solucionar os problemas prementes da vida material da sociedade e tornar possível o seu desenvolvimento posterior.
Marx disse acerca disto:
A teoria adquire uma força material logo que penetra nas massas (Crítica da Filosofia do Direito de Hegel).
Por consequência, para ter a possibilidade de influenciar as condições da vida material da sociedade e para acelerar o seu desenvolvimento, o seu melhoramento, o partido do proletariado deve apoiar-se numa teoria social, numa ideia social que traduza completamente as necessidades do desenvolvimento da vida material da sociedade e seja capaz, portanto, de pôr em movimento as grandes massas popula-res, capaz de as mobilizar e de as organizar no grande exército do partido do proletariado, pronto para varrer as forças reaccionárias e abrir o caminho às forças avançadas da sociedade.
A fraqueza dos “economistas” e dos mencheviques se explica entre outras coisas, pelo fato de que não reconheciam o papel mobilizador, organizador e transforma-dor da teoria de vanguarda, da ideia da vanguarda; caídos no materialismo vulgar, reduziam quase a zero este papel; é por isso que condenavam o partido a permanecer passivo, a vegetar.
O que dá a força e a vitalidade ao marxismo-leninismo é o fato de ele se apoiar numa teoria de vanguarda, que reflecte perfeitamente as necessidades do desenvolvimento da vida material da sociedade, de colocar a teoria no lugar elevado que lhe cabe, e considerar como seu dever a utilização completa da sua força mobilizadora, organizadora e transformadora.
É assim que o materialismo histórico resolve o problema das relações entre o ser social e a consciência social, entre as condições do desenvolvimento da vida material e o desenvolvimento da vida espiritual da sociedade.
(Continua a III parte, no post de 21 de Setembro)
Ver aqui:
http://aleddd.blogspot.pt/2011/09/iii-parte-conclusao-quem-estiver.html
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