quarta-feira, outubro 25, 2006

Sobre o treino Moffetone

tradução de Álvaro Costa e José Carlos Jorge
Quer Velocidade? Vá Devagar!
Pelo Dr. Maffetone
O monitor de ritmo cardíaco (1) ainda é um companheiro de treino subavaliado e mal compreendido: Hoje em dia, muitos corredores têm monitor, mas não tiram dele o proveito correspondente ao seu custo.
Na verdade, os HRM são apenas unidades de bio-resposta (2). O Dicionário Médico de Dorland define bio-resposta como “o processo que fornece informação audio-visual sobre o estado duma função do corpo humano de modo a poder-se exercer controle sobre essa função”, Como estudantes nos anos 70 envolvidos num projecto de investigação, medimos as respostas do ser humano a vários estímulos psicológicos; sons, efeitos visuais e uma variedade de estímulos físicos, incluindo a actividade física. Avaliaram-se as reacções observadas, medindo-se a temperatura, a transpiração e o ritmo cardíaco. Tornou-se evidente que o uso do HRM para medir objectivamente uma função corporal era simples, preciso e muito útil. E era obvia a sua aplicação no desporto. Para mim, foi o começo dum longo processo de utilização dos HRM nos atletas.
No começo dos anos 80, eu utilizava esses monitores em três aplicações importantes:
• O treino
• A auto-avaliação
• A corrida
O Treino
O uso de HRM no treino tem dois aspectos importantes. O primeiro de todos é que os atletas de resistência têm que construir uma boa base aeróbica, uma noção promovida décadas atrás pelo o famoso treinador de corredores Arthur Lydiard. A segunda coisa a ter em conta tem a ver com o ritmo cardíaco específico seguido no treino e com a maneira como um corredor determina o seu importante valor. Vejamos cada um desses aspectos por si:
Construção duma base aeróbica quer dizer treinar apenas na zona aeróbica. Durante o período da construção da base excluem-se treinos anaeróbicos (incluindo corrida). A actividade anaeróbica falseará o desenvolvimento eficiente na base aeróbica, pelo que todos os treinos são exclusivamente aeróbicos. Isso inclui a sessão longa de Domingo, o correr no sobe e desce dos parques florestais e qualquer outro treino em que haja uma forte influência de outros corredores ou do próprio terreno. Para além disso, o período da construção da base anaeróbica não tem levantamento de pesos, uma vez que o halterofilismo é também uma actividade anaeróbica.
Existem várias razões porque os treinos anaeróbicos podem inibir a construção da base aeróbica:
• O treino anaeróbico pode diminuir o número de fibras musculares aeróbicas, por vezes de forma significativa. Bastam, para isso, umas poucas semanas de treino a ritmo elevado demais.
• O ácido láctico produzido no treino anaeróbico pode inibir as enzimas musculares aeróbicas necessárias à construção da base aeróbica.
• O treino anaeróbico eleva o quociente respiratório. Isto significa que aumenta a percentagem de energia derivada do açúcar e diminui a queima das gorduras. Com o passar do tempo, isto pode forçar a mais metabolismo anaeróbico e a menos, aeróbico.
• O stress também pode inibir o sistema aeróbico. O stress é quase sinónima de treino anaeróbico. Stress excessivo eleva os níveis de cortisol, o que acaba por aumentar os níveis de insulina, inibindo a queima das gorduras e aumentando a utilização do açúcar, promovendo o metabolismo anaeróbico e inibindo a actividade anaeróbica.
O treino da base aeróbica é, muitas vezes, um período em que o treino de disciplina, dedicação e trabalho duro são primordiais. A maior parte dos atletas acham que estes três atributos têm a ver com dureza, grande esforço e sofrimento. Mas torna-se frequentemente bem mais duro que isso: O treino correcto durante a base aeróbica é, para muitos atletas, o mais difícil do meu programa: É a capacidade de correr devagar, não obstante o que os outros atletas possam estar a fazer ou a dizer. Nas provas mais longas, 95 a 98% da energia gasta vem do sistema aeróbico. É esta outra razão para eu recomendar que a maior parte do treino dirigido à melhoria deste processo.
A construção duma boa base aeróbica leva cerca de três meses. Para corredores que perderam a sua capacidade competitiva, que têm problemas crónicos (lesões, doenças), ou que não conseguem perder o peso que têm a mais, uma base mais longa – até seis meses – pode operar maravilhas.
Mas põe-se a questão: Que ritmo cardíaco usar para o treino aeróbico? O mais importante do treino com HRM será o saber qual o ritmo cardíaco a utilizar. Todos conhecemos a fórmula 220 menos a idade, multiplicada por 65 – 85%. Mas este método não tem fundamento. O ritmo cardíaco máximo duma pessoa deve ser de 220 menos a idade. Contudo, quem já se lançou numa pista ou numa corrida para chegar ao seu ritmo cardíaco máximo, terá descoberto, tal como mais de metade das pessoas, que não é o que a fórmula prevê. E depois, a percentagem: qual adoptar – 65%, 75%, 80%? Em vez de nos deitarmos a adivinhar, podemos usar uma fórmula nova, fundamentada cientificamente. Vejam mais adiante o texto sobre a Fórmula 180, que fixa o melhor ritmo cardíaco para a construção duma base aeróbica.
No começo, o treino a este ritmo cardíaco causa tensão emocional ao atleta. “Não consigo treinar assim tão lentamente!” é um comentário muito comum. Mas dentro de pouco tempo, não só se sentirá melhor, mas também a sua passada será mais rápida ao mesmo ritmo cardíaco. Um benefício significativo da aplicação da Fórmula 180 ao treino é a resposta bioquímica do corpo: A produção de radicais livres é mínima, comparada com a corrida a ritmos mesmo um pouco superiores. Estas substâncias químicas podem contribuir para problemas degenerativos, inflamações, doença do coração e câncer, para já não falar no acelerar do processo de envelhecimento. Usando a Fórmula 180, pode-se correr mais sem se arriscar a entrar em tensão bioquímica.
A Fórmula 180 Para achar o ritmo cardíaco máximo (aeróbico):
1. Subtrair a idade de 180 (180-idade).
2. Modificar este número segundo uma das seguintes situações:
• Para quem convalesce de uma doença grave /Coração, uma operação, um internamento hospitalar) ou está com uma medicação prolongada, subtrai-se 10;
• Para quem nunca treinou ou treinou mas ficou lesionado, retoma a corrida após um interregno, ou tem alergias ou está frequentemente constipado, subtrai-se 5;
• Para quem pratica desporto há dois anos sem problemas e só se constipa uma ou duas vezes por ano, subtrai-se 0;
• Para quem tem praticado por mais de dois anos sem qualquer problema e vai progredindo na competição sem problemas, soma-se 5.
Por exemplo, quem tem 30 anos e cai na segunda situação, acima: 180-30=150 e 150-5= 145. É este o seu ritmo cardíaco aeróbico máximo. Para uma construção de base aeróbica eficiente, deve treinar dentro ou abaixo desse valor durante todo o período de treino.
Auto-Avaliação
Um benefício significativo da construção duma base aeróbica é a capacidade de se correr mais depressa com o mesmo esforço, isto é, com o mesmo ritmo cardíaco aeróbico. E uma vantagem do uso do HRM é a possibilidade de medir objectivamente estas melhorias, utilizando o teste da função aeróbica máxima (MAF) (3).
O teste MAF mede objectivamente a evolução da velocidade aeróbica durante a construção da base. Velocidade aeróbica significa que se pode correr mais depressa com o mesmo ritmo cardíaco aeróbico. Normalmente, julga-se que apenas o trabalho anaeróbico dá velocidade. Mas os desenvolvimentos aeróbicos também dão e sem o desgaste que muitas vezes acompanha o treino duro. Faz-se o teste MAF numa pista com o HRM, correndo ao ritmo cardíaco máximo (aeróbico). Três a cinco milhas fornecem dados seguros, embora o teste de apenas uma milha seja suficiente. Faz-se o teste depois de um aquecimento ligeiro.
Abaixo está um exemplo concreto dos resultados obtidos com um corredor praticando o teste MAF ao ritmo cardíaco de 150:
Milha 1 8:21
Milha 2 8:27
Milha 3 8:38
Milha 4 8:44
Milha 5 8:49
Durante qualquer teste MAF, é normal os tempos aumentarem, sendo a primeira milha sempre a mais rápida e a última, a mais lenta. Se assim não for, quer dizer que não se fez um aquecimento prévio adequado. Para além disso, o teste deve mostrar tempos mais rápidos à medida que as semanas de treino passam. Por exemplo, em quatro meses, pode-se ver o progresso da resistência neste caso concreto:
Abril Maio Junho Julho
Milha 1 8:21 8:11 7:57 7:44
Milha 2 8:27 8:18 8:05 7:52
Milha 3 8:38 8:26 8:10 7:59
Milha 4 8:44 8:33 8:17 8:09
Milha 5 8:49 8:39 8:24 8:15
Este progresso geralmente só se verifica na base aeróbica. Se se acrescentar trabalho anaeróbico ou corrida ao ritmo de treino próprio de cada atleta, o progresso não será tão bom, ou, mesmo, não haverá progresso nenhum.
Execute-se o teste MAF regularmente, ao longo de todo o ano e registem-se os resultados individuais. Recomendo que se faça o teste de três em três ou de quatro em quatro semanas. A maior vantagem do teste é a possibilidade de nos informar objectivamente de qualquer obstáculo muito antes de se sentir algo ou dele acontecer na forma de uma lesão ou de um decréscimo de desempenho. Se alguma coisa interfere com o progresso – treino inadequado, má dieta, tensão excessiva – não se quererá ficar à espera que algo desagradável aconteça, quando já for tarde.
O teste MAF avisa-nos, fornecendo tempos demasiado baixos, meses antes de os problemas acontecerem.
Corrida
Outro aspecto importante do HRM e do teste MAF é que o teste permite prever os resultados. Há uma relação directa entre o ritmo aeróbico e o esforço na corrida, por outras palavras, se os resultados do teste MAF melhoram, melhorará a capacidade na corrida. Os dados obtidos com centenas de corredores durante vários anos tornaram evidentes que o desempenho dum corredor ao ritmo do máximo aeróbico está na proporção directa do ritmo de competição.
A tabela abaixo, baseada em dados reais, ilustra a relação entre o MAF e o desempenho numa corrida de 5 quilómetros:
ritmo de
ritmo de MAF competição MAF competição 5Km
Minutos / milha // Minutos / Km // tempo
10:00 7:30 6:13 4:40 23.18
9:00 7.00 5:36 4:20 21:45
8:30 6:45 5:17 4:12 20:58
8:00 6:30 4:59 4:02 20:12
7:30 6:00 4:40 3:44 18:38
7:00 5:30 4:21 3:25 17:05
6:30 5:15 4:03 3:16 16:19
6:00 5:00 3:44 3:06 15:32
5:45 4:45 3:35 2:57 14:45
5:30 4:30 3:25 2:48 13:59
5:15 4:20 3:16 2:42 13:28
5:00 4:15 3:07 2:38 13:12
O uso do monitor de ritmo cardíaco como guia ao longo dos períodos de construção de base aeróbica não só ajudam a se ficar com saúde, mas também, a se alcançar o melhor desempenho possível, durante muitos anos.
O Dr. Philip Maffetone tem treinado muitos atletas de nível mundial e atletas de vários escalões, na maior parte dos desportos, por mais de 20 anos. O seu livro mais recente é Na Saúde e Na Boa Forma e o seu novo livro, Treino Para A Resistência, tem a saída prevista para Dezembro (Barmore Productions, 607-652-7610).
Concedida autorização de divulgação, desde que dela se dê conhecimento ao autor, à FootNotes e à Road Runners Club of América.
Traduzido do inglês, por José Carlos Carreira Jorge e Álvaro Costa. Concedida autorização de divulgação da tradução, desde que indicados os tradutores.
Notas dos tradutores:
(1): HRM, de “Heart Rate Monitor”
(2): biofeedback, em inglês
(3): MAF, de Maximum Aerobic Function
Em 2005, o seu último livro chama-se The Maffetone Method: The Low-stress, No-pain Way to Exceptional Fitness de Agosto 1999
Fix Your Feet: Build the Best Foundation for Healthy, Pain Free Knees, Hips and Spine de Janeiro de 2004 um livro sobre fisioterapia
O Dr Maffetone foi considerado o Treinador do Ano em 1994 pela Triathlete Magazine e também foi considerado pela Inside Triathlon uma das 20 pessoas + influentes nos desportos de endurance

sexta-feira, outubro 20, 2006

Texto sobre Ken Wilber - Filósofo americano a ter em conta, sem preconceitos!




Ken Wilber – Conceitos Básicos

Victor MacGill (
macgill@es.co.nz)
(Trad. de Álvaro Costa - alvaro_ccosta@iol.pt)


Holon

Um Holon é qualquer porção do universo que seja um todo consistente por si próprio, mas que é, necessariamente, parte inteira de um sistema mais vasto que o inclui.

Por exemplo, cada átomo é um holon. O átomo, em si, é inteiro; tem uma forma concreta que sabemos ser a mesma onde quer que se encontre. Mas os átomos podem agrupar-se, formando moléculas. As moléculas são constituídas por átomos; as moléculas incluem-nos. As moléculas são mais complexas que os átomos. As moléculas também são holons, porque são intrinsecamente um todo e podem organizar-se formando uma célula viva; as células também são holons que podem formar um órgão do corpo; os órgãos dum corpo podem formar um ser vivo, etc., etc....

Graus de Consciência

A vida desenvolve-se por uma sucessão de estádios, sendo cada um, um holon que inclui o estádio anterior e que se vai incluir no estádio seguinte (1). Caminha-se de um estádio, para o seguinte, não se podendo saltar nenhum: Por exemplo, em termos de desenvolvimento interior, existem quatro níveis básicos:

Consciência Única: Tudo é visto como um todo. Sem qualquer limite;
Organismo Total (Centauro): Existe uma linha de separação entro nós próprios e o universo exterior (o próprio + o exterior = consciência única);
Nível do Ego: Desenha-se em nós próprios uma fronteira entre o ego e o corpo (ego + corpo = o próprio)
Nível do Persona(2): Traça-se uma separação entre a persona e a sua sombra (persona + sombra = ego)

Estes quatro níveis podem desdobrar-se em sete, que correspondem ao nosso sistema de chacras. Desenvolvendo mais o espectro de Wilber, é possível englobar vários sistemas de descrição de níveis num conjunto coerente.

Os Quatro Quadrantes

Há quatro aspectos a considerar em cada nível de consciência: Primeiro, temos que considerar os aspectos do Individual e do Colectivo, bem como os do Interior e do Exterior. Juntos, constituem os quatro aspectos:

Individual Individual
Interior Exterior

Colectivo Colectivo
Interior Exterior

Para que todo o sistema funcione bem, todos os quatro quadrantes têm que operar eficiente e equilibradamente; por exemplo, para que qualquer sociedade funcione bem, tem que preencher:

As necessidades interiores do indivíduo –
Os seus impulsos, expectativas, desejos, autoconfiança (Esquerda Superior);
As necessidades exteriores do indivíduo –
Alimentação, roupa, abrigo (Direita Superior);
As necessidades Interiores da sociedade –
As crenças, objectivos comuns e a sua visão do mundo (Esquerda Inferior);
As necessidades exteriores da sociedade –
Educação, saúde, estrutura económica, instituições (Direita Inferior).

Se qualquer destas necessidades não for satisfeita, estabelece-se o caos nessa sociedade.

Ao avançarmos e subirmos no espectro da consciência, verificamos que qualquer distorção no equilíbrio entre os quadrantes afectará o sistema dum modo próprio de cada nível de evolução em que essa distorção ocorre. Por exemplo, no mundo de hoje temos negligenciado as necessidades exteriores do nosso planeta, poluindo-o. O resultado deste desequilíbrio é a destruição da forma exterior do nosso planeta Terra.

A Dialéctica de Hegel

Foi Aristóteles que primeiro desenvolveu a ideia da tese, antítese e síntese. Mais tarde, Hegel reformulou–a como a Dialéctica: Sempre que algo de novo surge, (tese), como quando se alcança um novo nível de existência, desenvolve-se concomitantemente uma sombra que parece contrariá-lo (antítese). Estes dois aspectos opostos têm que ser entendidos por uma compreensão mais abrangente que supera a tese e a antítese (síntese).

Este processo explica como se evolui ao longo do espectro. Entramos em algo de novo e esforçamo-nos por o compreender: Wilber chama a este estádio, pre-convencional; quando o compreendemos, estamos no convencional. Mas, ao compreende-lo, surge a antítese, vemos que a tese não estava totalmente correcta e avançamos, ultrapassando a compreensão anterior, para o pós-convencional, para a síntese.

Exemplo: Quando apareceu a escravatura, no estádio pre-convencional, esta apresentava-se como uma inovação maravilhosa. Permitiu construir estruturas como as pirâmides e foi parte integrante do tecido social das sociedades durante milénios, enquanto foi aceite – enquanto foi convencional. Depois, aconteceu que chegámos à conclusão de que não prestava e abolimo-la. Então, aí, alcançámos o estádio pos-convencional.

A Planália

Wilber usa o termo Planália (3) para descrever o que acontece quando se ignora ou subestima um ou mais quadrantes. A ciência descreve o nosso mundo externo. A ciência é a visão do mundo que mede a nossa “realidade”. O que quer que não se possa de medir de modo nenhum é ignorado, como irreal e sem valor. Valores, sentimentos e intuição não têm lugar no mundo da ciência. Os cientistas criaram uma terra rasa, onde todo o lado esquerdo dos quatro quadrantes foi laminado para o lado direito. Quanto mais a ciência o faz (tese), tanto mais reagem as pessoas, que não estão preparadas para viver nessa Planália poluída (antítese).

Podemos também criar uma Planália quando nos separamos de níveis mais elevados de consciência. Uma sociedade tribal geralmente faz uma nítida distinção entre os que pertencem ao grupo e os que lhe são exteriores. Ao negar uma condição igual aos de fora, estão a criar uma Planália. Geralmente existem regras rigorosas obrigando à cooperação dentro do grupo, como a proibição de exercer violência sobre qualquer dos seus membros, mas incentiva-se a violência sobre estranhos, em particular se eles podem constituir uma ameaça. Criaram uma panália, ao ignorar a humanidade comum que todos partilhamos.

Onde Errámos, Aqui No Ocidente

A nossa visão científica da vida criou uma grande Planália. Em ciência não existe “eu”. Um cientista não diz “eu procedi a uma experiência” mas, sim, “procedeu-se a uma experiência”. Desapareceu a pessoa do cientista. Não há lugar para pensamentos e sentimentos, só existem medições das coisas. O lado esquerdo interior dos quadrantes é apagado e laminado para o lado direito. O lado material da nossa vida é tudo, o espiritual e interior não é nada. O mundo interior foi abandonado e perdemos o que nos liga à integridade do mundo. Perdeu-se Gaia e ela começa a queixar-se.

Descendente/Ascendente

A vida é o fluxo e refluxo de duas correntes; A energia ascendente é dominada pelo masculino e procura alcançar o Céu, negando a parte física; O cristianismo é fundamentalmente uma religião ascendente. A energia ascendente evita as emoções. A energia descendente é dominada pelo feminino e procura fazer o Céu na terra; As religiões de deusas são religiões descendentes; a energia descendente expressa-se por emoções.

Na vida, precisamos dum equilíbrio entre energia ascendente e energia descendente. Temos que nos elevar a novas alturas, mas mantendo os nossos pés bem firmes na terra. Também criamos Planália quando negamos qualquer destas duas correntes de energia.


Notas:
(1) Segundo KW, cada holon tem a capacidade de acção e participação, autodissolução e autotranscendência, pelas quais mantém a sua integridade, conservando os seus sub-holons, e desempenha o seu papel como parte do holon de grau imediatamente superior (capacidades horizontais), ou se separa, decompondo-se nos seus sub-holons, ou se supera (capacidades verticais), adquirindo qualidades superiores incluindo as qualidades úteis do seu estado anterior (N.T.).

(2) Segundo C. Jung, persona é a pessoa, tal como se representa perante os outros; a sombra, é a sua parte mais primitiva, animalesca, muitas vezes remetida para o inconsciente (N.T.).

(3) Flatland, em inglês (N.T.).



Os Vinte Princípios


1 Todo o Real é composto por holons e, não, por coisas ou processos;

2 Os holons apresentam quatro capacidades fundamentais:

a) Auto-sustentação;

b) Auto-adaptação;

c) Auto-transcendência;

d) Auto-dissolução;

3 Os holons surgem;

4 Os holons surgem holarquicamente;

5 Cada holon emergente transcende, mas inclui o seu predecessor;

6 Os de nível inferior determinam as possibilidades dos superiores; os de nível superior determinam as probabilidades dos inferiores;

7 “O número de níveis duma determinada hierarquia estabelece a sua profundidade ou superficialidade; ao número de holons presentes num determinado nível chamaremos extensão” (A. Koestler);

8 Cada nível sucessivo de evolução produz mais profundidade e menos extensão;

9 Se se destruir qualquer um tipo de holon, destruir-se-ão todos os holons que lhe são superiores e nenhum dos que lhe são inferiores;

10 As holarquias evoluem em conjunto;

11 O inferior interrelaciona-se com o superior ao longo de todos os níveis;

12 A evolução tem, numa dada direcção:

a) Maior complexidade;

b) Maior diferenciação/ integração;

c) Maior organização/ estruturação;

d) Maior autonomia relativa;

e) Maior perfeição.




Nota:
Do prefácio da segunda edição de Sex, Ecology, Spirituality: “O capítulo 2 destaca “vinte princípios” comuns aos sistemas emergentes ou em crescimento, onde quer que os encontremos. Muitas pessoas contando-os e, achando-os menos que vinte, perguntam se saltaram algum. Depende simplesmente do que se contou como sendo um princípio. Eu conto 12 princípios: o número 2 contém quatro, e o número 12 contém cinco, o que faz dezanove, ao todo. Ao longo do livro, adiciono mais, o que faz vinte e dois. Mas um ou dois dos princípios, não o são propriamente, são apenas definições (p. exemplo, o princípio 7 e talvez o 9). Teremos então os tais vinte princípios ou características da evolução. Mas o número vinte, em si, não tem nada de especial; refere-se apenas a alguns dos mais evidentes tropismos, sentidos ou tendências da evolução.”

Fonte: Ken Wilber, Sex, Ecology, Spirituality, 1995, pp. 35 a 78.




segunda-feira, outubro 16, 2006

Texto que publiquei no forum do mundo da corrida (ver link)

Sobre a Minha Primeira Maratona

A partida foi o início duma solenidade que vinha preparando desde o início do ano. O Dr. Moffetone pôs-me a correr a 7 minutos/km durante três horas e meia, pendulando entre o Cais do Sodré e a Cruz Quebrada. Fiquei a saber o que é correr sozinho tanto tempo, aperfeiçoei abastecimentos sólidos e líquidos. Depois dessa preparação psicológica, lá para Maio, o Eduardo Santos disse que chegava de Moffetone, que ficaria coxo para o resto da vida, enfim, fui para a aeróbia, no sobe-e-desce de Monsanto, progressivamente aumentando os tempos até às 3h30, culminando na Meia de Ovar, em que bufei os 21km em 1 hora e 47, meu recorde pessoal...
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E agora cá vou eu, a Ana Pereira, foi minha madrinha da corrida, cuidadosa comigo e sempre a incentivar-me, fizemos um grupinho coeso até aos 21km. Mas eles estavam acelerados demais para as minhas contas. Gostava de fazer a prova em menos de 4 horas, mas sair dos 6m/km a que me habituei parecia-me arriscado…
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É que estava a desvirginar-me de Maratonas (Ainda obrigo o Jorge Teixiera a casar comigo)! O máximo que tinha feito foi 30km (do Olivença-Elvas) isso eu já sabia como era, mas, mais 12 em cima dos 30km?!
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Talvez pudesse ter continuado com o grupo da Ana, puxávamos uns, pelos outros, acabaria, sim, mas como? Resolvi deixar-me ir no meu passo, eles, incluindo a minha madrinha, lá se foram distanciando e fiquei só com a paisagem. Que maravilha!
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Gosto muito do Porto, das terras e da gente, carago! Vir a correr para a prova e partir de volta a Lisboa foi um bocado pena, apetecia-me ficar mais dois ou três dias, voltar a passear calmamente o percurso, curtir as impressões de novo…
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Mas que nada, havia de tocar para a frente. E tudo bem organizado, bons abastecimentos, assistência médica, massagens, fruta, isotónico, passas, laranjas, bolachas, água, esponjas… Eu lá fui enfiando o que podia, para além das minhas armas secretas que passei a comer depois dos 21, uns waffers revestidos a chocolate a que me habituei em Monsanto e de que trouxe provisão do saco da Meia de Ovar.
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Gaia, a ponte para lá, público simpático, incentivos, ponte para cá: Feita a meia, ia começar a travessia do deserto. A estrada agora em silêncio, tap-tap-tap das sapatilhas. Tapete e retorno… para me distrair, mando bocas ao pessoal em sentido contrário. Às duas por três, alcanço uma bifa dos Plumstead Runners, jeitosinha, tive pena de a ter que ultrapassar, mas a vida é assim, ainda lhe mandei uma boca “Come on, You’re such a plum!” que mereceu a retribuição dum sorriso e dum simpático “thank you”. Lembro também uma finlandesa adejando a sua bandeira que cruzei algumas vezes. Como o último era um finlandês, penso que ela esperava por ele. Último na corrida, mas com uma bela compensação terrena, deve ser feliz…
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Enfim, isto, são pensamentos avulsos do que me ocorreu nesta experiência da minha vida, iniciada com a estreia na mini da Ponte 25 de Abril, em 1998…
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Depois duns empedrados que ultrapassei garbosamente, aproximei-me da “parede” dos 37 km… O mar entra em cena, que beleza, mas aí veio o Mostrengo (Obrigado, Fernando Andrade, era essa mesmo a imagem que não me ocorria e de que precisava aqui). De facto, foi ai que encarei o Monstro da Maratona, que me fez por três vezes largar as mãos do leme, duvidar da empresa, pensar em desistir, recear: ”não vou conseguir…” Um pensamento segredado a medo para mim próprio, uma angústia fininha, a ligar-se aos mil medos e frustrações dos meus quase 60 anos de vida. Mas voltei a segurar-me ao leme, fui passando as malditas rotundas, amaldiçoei tudo e todos, a Ana Pereira, o maluco do Eduardo Santos, Os PCGC, o Jorge Teixeira e a sua maratona… Ah…!
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Na última rotunda, na volta para a última subida para a meta, vejo os outros desgraçados que se arrastavam atrás de mim, em sentido contrário… Ah, ainda estão piores que eu, alguns caminham, eu ainda consigo correr… No início da subida, uma pessoa sorri e diz adeus aos corredores: A camarada Beatriz. Veterana experiente, ela sabia que era ali que nós precisávamos de apoio. E foi bom, carago! Então, quem sou eu, carago, quem sou eu??!!
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Vai dai, ligo o turbo e arranco pela subida, terreno onde, graças aos treinos em Monsanto, me sentia à vontade. Vivaaaaaaaaaaaaa!!! Onde está a Ana, o António e os outros? Onde estão, onde estão, onde estão?... Já não deu para os apanhar, mas ainda ultrapassei uns quantos no quilómetro final, terminando os últimos 100 metros com o sprint da praxe, passando um companheiro veterano!…
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Estava feita a minha primeira maratona e agora que estou a escrever, não sei porque me vêm as lágrimas aos olhos, deve ser da velhice. Agradeço à Ana, ao Eduardo, ao António, ao Luís Miguel, aos PCGC e ao Jorge Teixeira toda a ajuda e incentivo, também à Tartaruguinha e não esquecendo a Beatriz, cuja imagem só, junto à última rotunda, me salvou definitivamente do Mostrengo.
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Para terminar só queria dizer que dediquei esta corrida mágica a outro espaço mágico que tenho habitado ultimamente: Os encontros “Dance the Heart” (pesquisem na NET - vale a pena). E também aos seus habitantes, em particular aos seus mentores, o David Camacho e a Luísa e, claro, à Lília, que me levou para lá.
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Abraço a todos e desculpem o relambório, mas para mim era importante escrever isto...

quarta-feira, outubro 04, 2006

Agora, uma filosófica que encuquei...

Se responder a 3 de um teste de 10 perguntas, tenho um resultado de 30%, certo? Mostro que sei 30% do que era suposto saber…

Agora... Sobre a Realidade… Conhecemos 1001 coisas em 1001 campos do conhecimento. Tantos dados! Mas seja qual for o número, é um número finito, certo?
...Chamemos a esse número enorme N;


Agora… Acreditam que o Kosmos é infinito (chamemos-lhe Inf), no espaço e no tempo? Se sim, sabemos do Kosmos, N/Inf avos, não é?

Pois então não sabem nada do que nos rodeia, pois N/Inf = 0!

Tudo o que achamos que sabemos deve ser uma ilusão…ou não?