domingo, agosto 09, 2009

Revisitações…


A seguir à publicação do artigo sobre o 25A, deu-me para revisitar aqueles locais. Publico a seguir as fotos que tirei, tentando colocar-me, o mais possível, no ponto de onde tirei as anteriores, há mais de 35 anos. Ora vejam…

Não sei se as fachadas actuais ficaram assim depois das obras de 1974, acho pouco provável, o pós-modernismo ainda só viria, em Portugal, pela mão do meu colega Taveira, uns 10 anos depois… Mas o estacionamento abafante de hoje tornaria impossível a foto de então - as calças boca-de-sino ficariam tapadas! 


Já a esquina do Chiado se manteve imperturbável, as únicas coisas que terão mudado seriam os livros, na vitrina da Sá da Costa e, claro, o estacionamento automóvel! 

Nesta foto, TUDO mudou, parecendo ter ficado na mesma: 80% dos edifícios visíveis na primeira foto arderam, os que agora se vêm são os reconstruídos segundo o projecto de Siza… Também o desenho da calçada desapareceu, ficando só o calcário branco. 


Esta é a foto mais intrigante… Reparem: uma bala faz ricochete na parede e lasca uma esquina da cantaria da pilastra no teatro da Trindade. De onde veio a bala?



Nos dias 25 e 26 de Abril de 1974, que eu me lembre, houve tiros: contra o quartel do Carmo, por parte das tropas do MFA; contra a multidão, por parte dos agentes da PIDE/DGS, a partir das suas instalações, na rua António Maria Cardoso. Ora, o ponto do impacto da bala, na fachada do teatro Trindade, está no enfiamento da rua Nova da Trindade e da rua António Maria Cardoso!

A bala só poderia ter vindo das instalações da PIDE/DGS! De facto, um tiro de intimidação disparado do telhado das instalações daquela polícia política, a cerca de 300 metros de distância, poderia bem, numa trajectória curva, entrar pela rua Nova da Trindade, quase no prolongamento da rua António Maria Cardoso… e fazer o tal ricochete…!



Teria piada, para a história do 25A, que um perito em balística pegasse nisto e aprofundasse mais a investigação…


2 comentários:

Álvaro disse...

Peço desculpa, o endereço do meu anterior comentário, não funcionou. Tentemos este:

http://escavar-em-ruinas.blogs.sapo.pt/2008/04/

Do endereço acima, retirei a relação dos mortos pela PIDE na altura da "Revolução" dos Cravos, dita "Sem sangue"...:

• António Lage, 32 anos de idade;
• Fernando Luís Barreiros dos Reis, de 24 anos de idade, natural de Lisboa, soldado da 1.ª Companhia de Penamacor, e que se encontrava de licença;
• Francisco Carvalho Gesteiro, de 18 anos de idade, empre-gado de escritório, natural de Montalegre;
• João Guilherme Rego Arruda, de 20 anos de idade, natural dos Açores, estudante em Lisboa;
• José James Harteley Barnetto, de 37 anos de idade, natural de Ven-das Novas.

Zen disse...

Álvaro

não foi o sangue de um general! Se fosse a ponte sobre o Tejo tinha agora outro nome.

No Portugal dos pequeninos, só existe espaço para os "homens grandes".

Quiça a herança da "história heróica" de Salazar aprendida durante muitos anos na escola publica salazarista ou resquícios dos tempos aristocráticos também herdados pelas elítes dos tempos republicanos.

Bem, fico-me por aqui, volto mais tarde.

Parabéns, excelente documento historico/fotográfico, só faltava usares a mesma máquina e rolo, ai seria "artistico".

Abraço camarada.