segunda-feira, novembro 17, 2008

A VELHICE AO PODER

A VELHICE AO PODER!
Toda a criatura é necessária ao concerto do Universo. A minha mãe, 87 anos, lamenta-se, por vezes pergunta “que ando cá eu a fazer?” e eu quero dizer-lhe que ela me faz falta, talvez mais a mim que eu, a ela…

Também comenta que as pessoas deveriam ter sempre saúde, até à hora da morte!

Não! Aparentemente certo, há algo de mal contado nesta opinião. Quer dizer, eu, com 98 anos, estava muito bem a dançar numa discoteca e BUM, chegou a hora, morria!... Ná!

…Mas a ideia não era má de todo… Será?

O terror da morte faz os mais jovens virar a cara e acharem os velhos, horríveis, vendo neles o prenúncio da sua própria morte. Mas esta questão triste e feia terá talvez uma resposta alegre e linda…Será?

A minha geração é responsável pela libertação dos jovens. No final da II Guerra Mundial, um adolescente não passava dum bebé em crise de tamanho e borbulhas. A minha geração marchou ao som do rock e do pop, hinos musicais ao amor, à liberdade, à revolta. E os jovens jamais foram esses homúnculos de chapéu e gravata para que os adultos da época nos remetiam.

Hoje, poderemos dizer que essa batalha está ganha, embora, francamente, se esteja a passar para o extremo oposto, agora, parece que quem não for jovem é para abater, está cá a mais!

Pois estão muito enganados, e, mais uma vez, temos que pegar na bandeira e voltar à luta. A VELHICE É UM POSTO!

A VELHICE AO PODER!!!!

Mas vai ser preciso encarar a vida, toda ela, duma maneira totalmente diferente. Como uma jornada contínua de evolução, para a completa realização do Homem, como ser material e espiritual.

Neste mundo dual em que nos encontramos – onde cada fenómeno se desenvolve de acordo com uma luta interna entre dois aspectos contraditórios – podemos encontrar o número dois a reger tudo, os tempos também. Vou usar isso para calcular o tempo ideal de vida. Não o actual, mas aquele que é de facto necessário para a realização total do homem.

Aqui, entro num campo em que não sou especialista, vou fazer uma abordagem expedita e grosseira, médicos, biólogos, pediatras, educadores e demais especialistas nestas áreas, por favor, corrijam-me onde estiver errado!
Um segundo após o encontro do espermatozóide com o óvulo, este cria uma protecção que impede a entrada de outros espermatozóides; dois segundos depois, começa a sua subdivisão.
E de duplicação em duplicação, vamos vendo passar as fases da vida humana; ao ano de idade, começar a andar; aos dois, começar a falar; aos quatro anos, a definição da personalidade; aos oito, da vida social, a sexualidade potencial; aos dezasseis, a adolescência, a sexualidade efectiva; aos trinta e dois, um casamento maduro, filhos; aos sessenta e quatro, a visão sábia das coisas, aos cento e vinte e oito… Só partir desta idade, estará praticamente concluída a nossa vida, começam os festejos… De quê?

Reparem na alegria da criança e os adultos que a rodeiam, dando os primeiros passos! E quem não sorriu perante o orgulho dum(a) adolescente nas suas novas evidências corporais desta fase? E perante a felicidade dos bem-casados e pais babosos?
Então, porque se hão-de as pessoas entristecer com a 3ª idade? E porque não ansiar por ela, como a criança anseia ser igual ao irmão adolescente? E porque não o próprio preparar-se para a sua morte como uma noiva se prepara para o casamento? E porque não ver essa passagem como o coroamento glorioso de toda uma vida, completando-se? Não é isto de festejar?

Eu sei que agora, ninguém concorda comigo, ser velho é chato! Mas não vai ser sempre assim, virá um altura em que aquela questão colocada pela minha mãe pode ser cumprida. A evolução do conhecimento do homem vai permitir viver-se bem toda a vida, cada idade com as suas peculiaridades próprias, as suas vantagens e desvantagens, certamente o homem saberá encontrar uma resposta de adequação feliz e fisicamente saudável á sua idade. E, creio que isso terá que passar por uma mudança de mentalidade e por uma visão mais espiritual da vida!

Então, na tal discoteca das Docas, com mais de 128 anos, morrerei a dançar num transe xamânico!

VIVAAAAAAAAAAAAAAAAAAAA!!!!!

17 comentários:

jorge vicente disse...

álvaro,
nós perdemos a ideia dos anciãos, dos antigos, daqueles seres de luz que são mais velhos que nós e que nos ensinam.

esta tua ideia é brilhante!!!

não sei se te lembras do alf? quando um dos membros da família dos humanos morreu, ele fez uma festa!

lá na idade dele, uma pessoa morria no princípio e, quando chegava ao fim da vida, virava bebé e acabava.

era a inversão dos conceitos. nunca mais me esqueci desse episódio!!!

um abraço
jorge

Carla Freire disse...

Então, na tal discoteca das Docas, com mais de 128 anos, morreremos a dançar num transe xamânico!
Yeh.....boa ideia!
Brilhante...adorei!
Beijo
Carla

Anónimo disse...

Que ideia fantástica
Mas eu prefiro morrer a dançar o forró...abaixo do equador
Com essa idade ...lá naquelas bandas sempre é mais quentinho...kkkkkkkk
Viva a Alegria
Beijos

beatriz disse...

Um texto FANTÁSTICO Álvaro. Eu, que convivi com a "terceira idade"??? porque fui um dos elementos que fundou a Universidade da Terceira Idade do Barreiro, sabe que esta "terceira idade" é e capaz de transmitir aos mais novos toda uma panóplia de saberes que não tem nada de chato. Fizemos a experiência e resultou. Parabéns para o teu texto.

Márcia Píramo disse...

Álvaro, que texto gostoso de ler, parabéns!

É muito interessante que vc tenha se baseado na questão da dualidade para construir sua hipótese sobre o desenrolar da vida desde a concepção até a velhice...

Queria discutir com vc e quem mais quiser a questão da dualidade corpo x mente. Pois a grande inimiga para uma velhice saudável, na minha opinião, é a nossa mente condicionada a velhos hábitos, e que acredita piamente que aos cinquenta ou sessenta anos já não podemos isso, não podemos aquilo, já não tenho tempo para fazer isso e mais aquilo, já não consigo fazer isso e aquilo outro como fazia antes...

É certo que o nosso corpo se modifica, é certo também que nossa memória torna-se mais seletiva, esquecemos umas tantas coisas, mas aprendemos outras a partir de um outro patamar, o da experiência. As neurociências estão aí para nos dizer que os neurônios trabalham arduamente para nos ajudar nessa tarefa, nós é que não acreditamos e nos boicotamos...

Portanto, acredito que, se soubermos usar nossa mente e aprendizado de vida, podemos alcançar um certo grau de sabedoria. E se soubermos usar esta sabedoria disponível a partir de uns tantos anos de vida, adquirimos hábitos saudáveis para o corpo e para a mente. Parece-me que envelhecer de maneira saudável não é bem uma questão de sorte, mas de nos mantermos ativos e com projetos de vida.

E viva a velhice saudável aos 128 anos! Nas Docas ou em qualquer lugar do planeta, também eu quero morrer dançando...

Bjs,
Marcinha

Maria Sem Frio Nem Casa disse...

Meu querido amigo

Como te disse há tempos quando te lastimaste dizendo a vulgar frase "quem me dera ter menos 10 anos", eu respondi-te que daqui a 10 anos vais ter os tais "menos 10 anos"! Por isso em vez de nos lastimarmos, temos sim de viver o hoje!

Independentemente da idade, todas as fases da vida terão a sua beleza e encanto. As suas vantagens e desvantagens também. Coisas que se ganham, outras se perdem com a idade.

Mas a Vida, quer aos 6 quer aos 60, está aí! Para ser vivida! Hoje!

Quem já te ouviu lastimar com o tal desabafo de "quem me dera ter menos 10 anos", não quero agora também que cais no oposto, num discurso eloquente, enaltecendo a "idade" como ... como... um posto, que não o é de todo!

A vida é hoje. Só isto. Saber vivê-la independentemente da idade que se tenha é um dom. E é triste muitas vezes ver-se a criança e o jovem que usufrui em plenitude desse dom, mas que com a idade, o vai perdendo...

Esforcemo-nos para que isso não aconteça. Todos nós. Tu, eu, e todos. De todas as idades.

Ah, meu amigo! Adorei essas fotos de menino e moço, e a de hoje também!

Beijinho grande
Ana Pereira

Um blog pra chamar de meu... disse...

Álvaro, eu vim aqui por indicação do meu namorado Felipe, ele sabe o quanto eu gosto de ler...
E tenho que confessar que vim aqui mais por insistência dele, pois ando um pouco afastada da Net, mas foi ótimo, vc me cativou com seu texto.
Eu sinto uma imensa ternura pelos velhinhos(as).Dentro daqueles corpos desgastados pelos anos, moram crianças que querem brincar, jovens que querem amar e serem amados.Abraçar.Beijar...
Preconceituosamente,aos velhos, está reservado outro tipo de vida, amor pelos netos, olhar resignado, espera pela morte,passeios lentos pelos parques, cochilos em meio às conversas, roupas velhas e amarrotadas.
Mas, as pessoas precisam entender que o coração, os sonhos, as esperanças...estes não envelhecem jamais.Estes senhores e senhoras, assim como os jovens estão desejando viver e comemorar a vida, e não serem condenados ao isolamento.
É triste ver quantos velhos vivem na mais imensa solidão
É por isto que eu concordo plenamente com seu texto.
Precisamos tirar os velhos dessa classe oprimida, para que eles possam viver dignamente e com qualidade de volta o tempo que lhes for reservado.
Se for 128...Ótimo!!!!
Ainda vai dar tempo de eu entrar numa academia de dança de salão, para ir a esta discoteca.
Um grande abraço, meu e do Felipe

Um blog pra chamar de meu... disse...

Álvaro, eu vim aqui por indicação do meu namorado Felipe, ele sabe o quanto eu gosto de ler...
E tenho que confessar que vim aqui mais por insistência dele, pois ando um pouco afastada da Net, mas foi ótimo, vc me cativou com seu texto.
Eu sinto uma imensa ternura pelos velhinhos(as).Dentro daqueles corpos desgastados pelos anos, moram crianças que querem brincar, jovens que querem amar e serem amados.Abraçar.Beijar...
Preconceituosamente,aos velhos, está reservado outro tipo de vida, amor pelos netos, olhar resignado, espera pela morte,passeios lentos pelos parques, cochilos em meio às conversas, roupas velhas e amarrotadas.
Mas, as pessoas precisam entender que o coração, os sonhos, as esperanças...estes não envelhecem jamais.Estes senhores e senhoras, assim como os jovens estão desejando viver e comemorar a vida, e não serem condenados ao isolamento.
É triste ver quantos velhos vivem na mais imensa solidão
É por isto que eu concordo plenamente com seu texto.
Precisamos tirar os velhos dessa classe oprimida, para que eles possam viver dignamente e com qualidade de vida o tempo que lhes for reservado.
Se for 128...Ótimo!!!!
Ainda vai dar tempo de eu entrar numa academia de dança de salão, para ir a esta discoteca.
Um grande abraço, meu e do Felipe

Anónimo disse...

FANTÁSTICO, Álvaro!!
Uma leitura obrigatória para todos nós!!!
Tão bom ter a sabedoria do ancião e a alegria do jovem!! Não é assim que tem que ser????

Sinceros parabéns!!!!
Beijos ternurentos
Clau Assi

Felicidade na Educação disse...

Viva Álvaro,

Há sabedoria no teu texto. Qualquer dia poderá ser possível fundar Uni-versidades com professores/estudantes residentes/itinerantes como no tempo dos pitagóricos? - Ashrams? Melhor do que "coisas" mediáticas como ainda está na moda...

Quando à dialéctica das dicotomias, permte-me que inclua um terceiro elemento que as subjaz, opõe e entrelaça - a capacidade cerebral de transcender - como caminho para a AUTO-REALIZAÇÃO.
- Objectivo quantitativo e qualitativo, se quisermos da Sociedade (e não como tem sido relegada) para o personalismo mais ou menos elitista.

Estamos às portas interiores de uma Nova Era (?) - daí que a SABEDORIA começa a fazer-nos sentido, pois chega de caretas e marretas no poder, velhos... novos, com ou sem gravatas com-prometidas com a estética do sofrimento, vales-de-lágrimas e outras cruéis ignorâncias.

Um abraço do Eduardo Espírito Santo!

Virgínia de Sá disse...

Pois amigo, para mim que acredito ser a morte apenas uma viagem, concordo o mais possível com a ideia de a celebrar antecipadamente,
uma vez que do outro lado ainda não sabemos muito bem como vai ser. A ideia de a celebrar a dançar ... parece-me ainda mais apetitosa, tanto mais, que tendo já dançado contigo te considero um interessante e energético dançarino.

Abraços de LUZ na música universal .
Virgínia de Sá.

Unknown disse...

Álvaro,

Sou pela coexistência de todas as gerações.

Não são os jovens que excluem os velhos, são estes que se excluem a si próprios quando se deixam condicionar por preconceitos tais como: “já não posso vestir isto porque não é próprio para a minha idade”; “com a velhice aparecem as doenças”; “é ridículo estar apaixonado”… e outras pérolas como estas. Quando nos deixamos de importar com o que os outros vão pensar sobre o nosso aspecto, ou comportamento e agimos de acordo com a sabedoria interior, perseguindo sempre aquilo que nos preenche e não o que é comum, ou que está na moda, aí sim, podemos sentir-nos livres, não para envelhecer, mas para continuar a viver.

“Desperte corpo e mente e mantenha-se sempre jovem” é um livro de Deepak Chopra que te aconselho, acabei de o reler por isso fica à tua disposição.

E dança, corre, diz poesia, escreve no teu blogg e acrescenta novos interesses à lista. O importante é preservar o corpo, alimentar o espírito e manter os neurónios activos.

Isabel Ferreira

Anónimo disse...

Sigo a Isabel. Há velhos muito chatos. E não quero a velhice ao poder, o poder faz mal a todos e fará ainda pior aos velhos preconceituosos, donos de muitas verdades. Também há jovens assim mas são jovens - talvez aprendam.
Com um neto a caminho, gosto da mistura de idades.
Só tive tempo para ler até aqui. Hei de continuar.
Abraço

Unknown disse...

Que texto lindo, meu Amigo! Transbordante de ternura... E não é só conversa pq. bem vejo o carinho imenso com que dás a mão à tua mãe (...), como lhe chamas "malandrona"... tantos e tantos gestos de cumplicidade e de cordão umbilical!
Não é por nada mas quando for grande, gostava de ter um filho como tu...
Este texto além de bonito, tem ingredientes poderosíssimos. Com essas convicções bem que poderias ser responsável pela área da 3ª idade na Segurança Social...
Bj. grande

nelinha disse...

Alvaro,
tu sempre me disseste que vamos durar até aos 150 anos,estou de acordo,que o envelhecimento na nossa geração vai haver mais idosos....Os conhecimentos que temos sobre a velhice são relativamente recentes.o que se conhece é a partir do Séc.XVIII.A esperança de vida tem aumentado em Portugal actualmente de 103 idosoa para 100 jovens.À escala mundial com idade igual ou superioa a 65 anos aumentou de 10 para 17 milhões em 1900, para 342 milhões em 1992 e prevê-se que aumente para 2,5 biliões(20% da população total) em 2050...Não devemos cultivar o medo de ser velho.Associa-se muitas vezes o ser velho á morte.
É importante
*Cuidar da saúde física e mental
*Aumentar o conhecimento de si mesmo e desenvolver os aspectos positivos da personalidade
*Fazer exercícios de memoria
*Partilhar esperiências
*Conservar os conctos familiares, amigos mesmo distantes
*Amar, criar interesse com as possibilidades que dispondo(físicas , psiquicas, sociais e economicas) e de certo modo ter sentido da realidade.
Torna-se permente que se reflicta sobre as condições de criar, não só para proporcionar a este grupo etário uma melhor qualidade de vida como aos jovens e adultos de hoje-velhos de amanhã.

POIS NÃO INTERESSA SÓ DAR MAIS ANOS À VIDA, MAS SIM MAIS VIDA AOS ANOS.

(Tu sabes tenho dois familiares em minha casa, 90-93...Como tu dizes e bem são a minha companhia)...

Adorei o que escreste e quero tb morrer a dançar velhinha mas agarradinha a um borracho, penso que nessa tal discoteca das Docas...que tal...
Beijo
Nela

Maria Afonso Sancho disse...

Não concordo com essa de morrer nas Docas. A música que os jovens creem apreciar é indigna da sabedoria de um ancião. ;)
Música é vibração. E no inície era o Verbo.
E se crescemos tanto pela vida, não é para andar tontamente a imitar os jovens. Porém para descobrirmos o mundo que seja mesmo nosso. Melhor que aquele com que sonhamos na juventude.
Porque vida é flexibilidade. E por aqui andamos num mundo composto de mudança.

Álvaro disse...

Obrigado por comentares,Kika!
Talvez tenhas razão, daqui a 61 anos, quando eu morrer com 128 anos, logo veremos...
De qualquer modo, devo dizer-te que a música que mais gosto de dançar é o Trance, porque, para mim, é uma forma de meditação activa!