PUBLICADO EM 11 DE SETEMBRO, AQUI VAI UMA HOMENAGEM À ODISSEIA CHILENA
Nos termos da minha postagem anterior para a qual remeto, por aqui:
http://aleddd.blogspot.com/2011/09/muro-de-elucubracoes.html
Junto a seguir a I parte do texto
Materialismo Dialéctico, Materialismo Histórico
de José Estaline
SUMÁRIO
1- O Método Dialéctico Marxista
2- O Materialismo Filosófico
3- O Materialismo Histórico
O materialismo dialéctico é a teoria geral do Partido marxista-leninista. O materialismo dialéctico é assim chamado, porque a sua maneira de considerar os fenóme-nos da natureza, o seu método de investigação e de conhecimento é dialéctico e a sua interpretação, a sua concepção dos fenómenos da natureza, a sua teoria é materialista.
O materialismo histórico estende os princípios do materialismo dialéctico ao estudo da vida social; aplica estes princípios aos fenómenos da vida, social, ao estudo da história da sociedade.
Ao definir o seu método dialéctico, Marx e Engels se referem habitualmente a Hegel, como o filósofo que enunciou as características fundamentais da dialéctica. Contudo, isso não significa que a dialéctica de Marx e Engels seja idêntica à de Hegel, pois Marx e Engels só tomaram da dialéctica de Hegel, o seu núcleo racional; rejeitaram dela a sua parte idealista e desenvolveram a dialéctica, imprimindo-lhe um carácter científico moderno.
O meu método dialéctico, diz Marx, não só difere na sua base do método hegeliano mas é mesmo exactamente oposto. Para Hegel, o movimento do pensamento. que ele personifica sob o nome de Ideia. é o criador da realidade, a qual não é senão a forma fenomenal da Ideia. Para mim. pelo contrário. o movimento do pensamento é a reflexão do movimento real, transportado e transposto para o cérebro do homem (O Capital).
Ao definir o seu materialismo, Marx e Engels referem-se habitualmente a Feuerbach, como o filósofo que reintegrou o materialismo no seu devido lugar. Contudo, isso não significa que o materialismo de Marx e Engels seja idêntico ao de Feuerbach. Com efeito, Marx e Engels apenas tomaram, ao materialismo de Feuerbach, o seu núcleo central; desenvolveram-no numa teoria filosófica científica do materialismo e rejeitaram dele as sobreposições idealistas, éticas e religiosas. Sabe-se que Feuerbach, apesar de ser basicamente materialista, se ergueu contra a denominação de materialismo. Engels disse, várias vezes, que Feuerbach continua, apesar da sua base (materialista) prisioneiro dos entraves idealistas tradicionais, que o verdadeiro idealismo de Feuerbach aparece logo. que chegamos à sua filosofia da religião e à sua ética. (Friedrich Engels: Ludwig Feuerbach e o fim da filosofia clássica alemã).
Dialéctica vem da palavra grega dialektiké que significa conversar, debater. Na antiguidade entendia-se por dialéctica a arte de chegar à verdade, descobrindo e superando as contradições contidas no raciocínio do adversário. Certos filósofos da antiguidade pensavam que a descoberta das contradições no pensamento e o choque das opiniões contrárias eram o melhor meio de descobrir a verdade. Este modo dialéctico de pensamento, estendido a seguir aos fenómenos da natureza, tornou-se o método dialéctico do conhecimento da natureza; segundo este método, os fenómenos da natureza estão eternamente em movimento e em transformação e o desenvolvimento da natureza é o resultado do desenvolvimento das contradições da natureza, o resultado da acção recíproca das forças contrárias da natureza. Pela sua essência, a dialéctica completamente oposta à metafísica.
1º - O método dialéctico marxista é caracterizado pelos seguintes traços fundamentais:
a) Ao contrário da metafísica, a dialéctica olha a natureza não como uma acumulação acidental de objectos, de fenómenos separados uns dos outros, isolados e independentes uns dos outros, mas como um todo unido, coerente, em que os objectos, os fenómenos, estão ligados organicamente entre eles, dependem um dos outros e condicionam-se reciprocamente.
É por esta razão, que o método dialéctico considera que nenhum fenómeno da natureza pode ser compreendido se for considerado isoladamente, fora dos fenómenos que o rodeiam; pois qualquer fenómeno, em qualquer domínio da natureza; pode ser convertido numa coisa sem sentido, se for considerado fora das condições que o rodeiam, se for separado destas condições; pelo contrário, qualquer fenómeno pode ser compreendido e justificado, se for considerado sob o ângulo da sua ligação indissolúvel com os fenómenos que o rodeiam, se for considerado tal como é condicionado pelos fenómenos que o cercam.
b) Ao contrário da metafísica, a dialéctica olha a natureza, não como um estado de repouso e de imobilidade, de estagnação e de imutabilidade, mas como um estado de movimento e transformação perpétuos, de renovação e desenvolvimento inces-santes, em que sempre que qualquer coisa nasce e se desenvolve, desagrega-se e desaparece qualquer coisa. É por esta razão que o método dialéctico exige que os fenómenos sejam considerados não só do ponto de vista das suas relações e condicionamentos recíprocos, mas também do ponto de vista do seu movimento, da sua transformação, do seu desenvolvimento, do ponto de vista do seu aparecimento e do seu desaparecimento.
Para o método dialéctico, o que importa, antes de mais, não é. o que parece estável num dado momento, mas o que começa já a decair; o que importa, antes de tudo, é o que nasce e se desenvolve mesmo se, num dado momento, a coisa parece instá-vel, pois segundo o método dialéctico, nada é menos vulnerável do que aquilo que nasce e se desenvolve. Toda a natureza, diz Engels, das partículas mais ínfimas aos corpos maiores, do grão de areia ao Sol, do protiste (célula primitiva) ao homem, está empenhada num processo eterno de aparecimento e de desaparecimento, num fluxo incessante, num movimento e numa transformação perpétuos (Dialéctica da Natureza. F. Engels).
É por esta razão, diz Engels, que a dialéctica observa as coisas e o seu reflexo mental principalmente nas suas relações recíprocas, no seu encadeamento, no seu movimento, no seu aparecimento e desaparecimento (Anti-Dühring. F. Engels).
c) Contrariamente à metafísica, a dialéctica considera o processo de desenvolvi-mento, não como um simples processo de crescimento, em que as mudanças quali-tativas não têm como resultado mudanças quantitativas, mas como um desenvol-vimento que passa das mudanças quantitativas e latentes a mudanças evidentes e radicais, a mudanças qualitativas; em que as mudanças qualitativas não são graduais, mas rápidas, bruscas e se verificam por saltos, de um estado a outro; estas mudanças não são contingentes, mas necessárias; são o resultado da acumulação de mudanças quantitativas insensíveis e graduais.
E por esta razão que o método dialéctico considera que o processo de desenvolvimento deve ser entendido não como um movimento circular, não como uma sim-ples repetição do caminho percorrido, mas como um movimento progressivo, ascendente, como a passagem do estado qualitativo antigo, a um novo estado qualitativo, como um desenvolvimento que vai do simples ao complexo, do inferior ao superior.
A natureza, diz Engels, é o banco de ensaios da dialéctica e é necessário dizer que as ciências modernas da natureza forneceram, para esta prova, materiais que são extremamente ricos e que aumentam de dia a dia, assim provando que a natureza, em última instância, comporta-se dialecticamente e não metafisicamente, que não se move num círculo eternamente idêntico que se repetiria perpetuamente, mas que conhece uma história real. A propósito disto convém, antes de mais, mencionar Darwin que infligiu um rude golpe à concepção metafísica da natureza, ao demonstrar que todo o mundo orgânico, tal como existe hoje, as plantas e os animais e portanto também o homem, é o produto de um processo de desenvolvimento que já dura há milhões de anos (Ibidem).
Engels mostra que no desenvolvimento dialéctico, as mudanças quantitativas se convertem em mudanças qualitativas:
Em física... toda a transformação é uma passagem da quantidade à qualidade, o efeito da mudança quantitativa da quantidade de movimento – seja de que forma for – inerente ao corpo ou comunicado ao corpo. Assim, a temperatura da água é, em princípio, indiferente ao seu estado líquido; mas se se aumenta ou diminui a temperatura da água, chega um momento em que o seu estado de coesão se modifica e a água se transforma em vapor e em gelo respectivamente... É assim que é necessária uma corrente de uma certa intensidade para tornar luminoso um fio de platina; é assim que qualquer metal tem a sua temperatura de fusão; é assim que qualquer líquido, a uma dada pressão, tem o seu ponto determinado de congelação e de ebulição, na medida em que os nossos meios nos permitam obter as temperaturas necessárias; enfim, é assim que, para cada gás, há um ponto crítico no qual se pode transformar em líquido, em determinadas condições de pressão e arrefecimento... As constantes, como se diz em física (pontos de passagem de um estado a outro), não são, na maior parte dos casos, mais do que pontos nodais em que a adição ou subtracção de movimento (mudança quantitativa) prova uma mudança qualitativa num corpo, em que, por consequência, a quantidade se transforma em qualidade (Dialéctica da Natureza).
E a propósito da química:
Pode-se dizer que a química é a ciência das transformações qualitativas dos cor-pos, devidas a transformações quantitativas. O próprio Hegel já o sabia. Tomemos o oxigénio: se se reúnem numa molécula três átomos em lugar de dois, como nor-malmente, obtém-se um corpo novo, o ozono, que se distingue nitidamente do oxigénio ordinário, pelo seu cheiro e pelas suas relações. E que dizer das diferentes combinações do oxigénio com o azoto ou com o enxofre, de onde, de cada uma delas, resulta um corpo qualitativamente diferente de todos os outros (Ibidem)
Enfim, Engels critica Dühring que censura Hegel atribuindo-lhe sub-repticiamente a sua célebre tese, segundo a qual a passagem do reino do mundo insensível ao da sensação, do reino do mundo inorgânico ao da vida orgânica, é um salto para um novo estado:
É com efeito a linha nodal hegeliana das relações de medida, em que uma adição ou uma subtracção puramente quantitativas produzem em certos pontos nodais. um salto qualitativo. como é o caso, por exemplo, da água aquecida ou arrefecida, para a qual o ponto de ebulição e o ponto de congelação são os nós em que se verifica, à pressão normal, o salto para um novo estado de agregação; em que, por consequência, a quantidade se transforma em qualidade (Anti¬Dühring).
d) Ao contrário da metafísica, a dialéctica parte do princípio que os objectos e os fenómenos da natureza encerram contradições internas, pois todos eles têm um lado negativo e um lado positivo, um passado e um futuro, todos eles têm elementos que desaparecem ou que se desenvolvem; a luta destes contrários, a luta entre o velho e o novo, entre o que morre e o que nasce, entre o que se desagrega e o que se desenvolve, é o conteúdo interno do processo de desenvolvimento da conversão das mudanças quantitativas em mudanças qualitativas.
É por esta razão que o método dialéctico considera que o processo de desenvolvimento do inferior ao superior não se efectua no plano de uma evolução harmoniosa dos fenómenos, mas no de evidência das contradições inerentes aos objectos, aos fenómenos, no plano de uma luta das tendências contrárias que se operam na base destas contradições.
A dialéctica, no verdadeiro sentido da palavra, é, diz Lenine, o estudo das contradições na própria essência das coisas (Lenine: Cadernos de filosofia).
E mais adiante:
O desenvolvimento é a luta dos contrários. (Lenine: Questões da dialéctica)
São estes, em resumo, os traços fundamentais do método dialéctico marxista.
Não é difícil compreender qual a considerável importância que toma a extensão dos princípios do método dialéctico ao estudo da vida social, ao estudo da história da sociedade, qual a considerável importância que toma a aplicação destes princípios à história da sociedade, à actividade prática do partido do proletariado.
Se é verdade que não há, no mundo, fenómenos isolados, se é verdade que todos os fenómenos estão ligados entre si e se condicionam reciprocamente, é claro que qualquer regime social e qualquer movimento social na história devem ser julgados, não do ponto de vista da justiça eterna ou de qualquer outra ideia preconcebida, como o fazem frequentemente os historiadores, mas do ponto de vista das condições que deram origem a este regime e a este movimento e com as quais estão ligados.
O regime de escravatura, nas condições tatuais, seria um contra-senso, um absurdo contra a natureza. Mas o regime de escravatura nas condições do regime da comunidade primitiva em decomposição é um fenómeno perfeitamente compreensível e lógico, pois significa um passo em frente em relação à comunidade primitiva.
Reivindicar a instituição da república democrática burguesa nas condições do czarismo e da sociedade burguesa, por exemplo na Rússia de 1905, era perfeita-mente compreensível, justo e revolucionário, pois a república burguesa significava, então, um passo em frente. Mas reivindicar a instituição da república democrática burguesa, nas condições tatuais da U.R.S.S., seria um contra-senso, seria contra-revolucionário, pois a república burguesa em comparação à república soviética é um passo atrás.
Tudo depende das condições, do lugar e da época.
É evidente que sem esta concepção histórica dos fenómenos sociais, a existência e o desenvolvimento da ciência histórica são impossíveis; só uma tal concepção evita que a ciência histórica se torne um caos de contingências e um montão de erros absurdos.
Prossigamos. Se é verdade que o mundo se move e se desenvolve perpetuamente, se é verdade que o desaparecimento do velho e o nascimento do novo constituem uma lei do desenvolvimento, é claro que não há regimes sociais imutáveis, princípios eternos de propriedade privada e de exploração; que não há ideias eternas de submissão dos camponeses aos grandes latifundiários, dos operários aos capitalistas.
Por consequência, o regime capitalista pode ser substituído pelo regime socialista, do mesmo modo que o regime capitalista substituiu na devida altura, o regime feudal.
Consequentemente, é preciso basear a acção, não nas camadas sociais que não se desenvolvem mais, mesmo que representem no momento a força dominante, mas nas camadas sociais que se desenvolvem e que têm o futuro, mesmo que não representem no momento a força dominante.
Em 1880-1890, na época da luta dos marxistas contra os populistas, o proletariado da Rússia era uma Ínfima minoria em relação à massa dos camponeses individuais, que formava a imensa maioria da população. Mas o proletariado desenvolvia-se enquanto classe, ao passo que o campesinato desagregava-se enquanto classe. E foi justamente porque o proletariado se desenvolvia como classe, que os marxistas basearam nele a sua acção. No que não se enganaram, pois sabe-se que o proletariado, que era uma força pouco importante, se tornou a seguir uma força histórica e política de primeira ordem.
Assim, para não nos enganarmos em política, é necessário olhar para a frente e não para trás.
Prossigamos. Se é verdade que a passagem das mudanças quantitativas lentas a mudanças qualitativas bruscas e rápidas é uma lei do desenvolvimento, é claro que as revoluções realizadas pelas classes oprimidas constituem um fenómeno absolu-tamente natural, inevitável.
Consequentemente, a passagem do capitalismo ao socialismo e a libertação da classe operária do jugo capitalista podem ser efectuadas, não por transformações lentas, não por reformas, mas somente por uma mudança qualitativa do regime capitalista, pela revolução.
Assim, para não nos enganarmos em política, é preciso sermos revolucionários e não reformistas.
Prossigamos. Se é verdade que o desenvolvimento se faz pelo aparecimento das contradições internas, pelo conflito das forças contrárias, na base destas contradições, conflito destinado a ultrapassá-las, é claro que a luta de classes do proletariado é um fenómeno perfeitamente natural, inevitável.
Assim, não devem ocultar-se as contradições do regime capitalista, mas fazê-las aparecer e expô-las, não abafar a luta de classes, mas levá-la até ao fim.
Portanto, para não nos enganarmos em política, é preciso seguir uma política proletária de classe, intransigente, e não uma política reformista de harmonia com os interesses do proletariado e da burguesia, não uma política conciliadora de integração do capitalismo no socialismo.
Eis o que é o método dialéctico marxista aplicado à vida social, à história da sociedade.
Por sua vez, o materialismo filosófico marxista pela sua raiz, o exacto oposto do idealismo filosófico.
(Continua a II parte, no post de 14 de Setembro)
Ver aqui:
http://aleddd.blogspot.pt/2011_09_14_archive.html
(Continua a II parte, no post de 14 de Setembro)
Ver aqui:
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